Oi, pessoal! Hoje a entrevistada será a escritora Roseane Sousa.
Vamos conhecer mais uma autora nacional ♥
BLOG: Quem é a autor(a)?
R: Roseane Sousa
BLOG: Se você pudesse se descrever em três palavras, quais seriam?
R: Mãe, professora, leitora
BLOG: O que te motivou a se tornar escritora?
R: Sou uma pessoa que observa e absorve demais o mundo à minha volta.
Desde criança me imagino em corpos diferentes, em vidas diferentes, em ambientes diferentes. Na escola, era sempre elogiada por minhas redações e repetia os dizeres dos adultos ao meu redor que diziam que eu seria escritora.
Mas, a partir da adolescência quando comecei a pensar no meu futuro, essa ideia se tornou apenas uma memória remota da infância, escrever não fazia parte das minhas ambições profissionais. Foi só por volta dos 35 anos que tive um insight enquanto caminhava na praia (foi assim mesmo!), com os pensamentos povoados de histórias que não me deixavam relaxar a mente, e percebi que tantas ideias e sentimentos poderiam ser registradas e compartilhadas. Dali em diante comecei a fazer meus primeiros testes, ao mesmo tempo que pesquisava e tentava me inteirar sobre esse universo.
BLOG: Escrever significa...
R: Deixar escapar que excessos de pensamentos e sentimentos, permitindo que eu me liberte daquilo que me sufoca.
BLOG: Quantos e quais são seus livros publicados?
R: Em 2019 publiquei Vaivéns da Alma, um romance que conta o drama de uma família que vive a dificuldade de lidar com a violência sexual vivida pela filha mais nova. Em 2021, lancei uma novela intitulada Insídia, que retrata a solidão da esposa de um workaholic que busca suprir sua necessidade de afeto em sites de relacionamentos para pessoas casadas na ineternet. Tenho também dois contos na Amazon: Sutilezas do Amor, que aborda o drama da gravidez na adolescência e Hiatos, que traz de volta o tema do abuso sexual.
BLOG: Qual o seu livro mais recentemente lançado?
R: Recentemente, lancei Hiatos, um conto de 30 páginas que conta uma história de perdas, abusos e escolhas inadequadas.
BLOG: Qual livro mais te marcou ou é seu favorito entre os que escreveu?
R: Vaivéns da Alma. Foi meu primeiro livro, comecei sem saber direito o que estava fazendo, foram mais de três anos trabalhando em cima dele, escrevendo e reescrevendo, a história amadureceu junto com meu eu-escritora. Mergulhei de corpo e alma na história, perdi sono, chorei com os protagonistas, xinguei o antagonista. Até hoje não superei a separação que se deu entre mim e os personagens após a conclusão do livro, não é como se eu os tivesse inventado, mas como se eu os conhecesse e tivesse convivido com eles e na pele deles.
BLOG: Qual dos seus livros foi o mais difícil de escrever?
R: O que estou escrevendo agora. Estou trabalhando num romance em primeira pessoa (o que pode ser banal para muita gente, mas pra mim gera uma dificuldade imensa) que conta a história de uma mulher obcecada por ser mãe, mas que vive o drama da infertilidade. Ela e o marido buscam solucionar a questão procurando o maior especialista em fertilização in vitro do país, mas as coisas não acontecem exatamente como preveem. Inspirei-me na história dos crimes do ex-médico Roger Abdelmassih e a construção do enredo demandou, além de muita pesquisa, um grande cuidado na representação dos personagens e dos fatos, não é fácil lidar com um tema tão delicado e que machucou tanta gente.
Além da dificuldade com o tema, esbarrei em várias dificuldades técnicas: a estrutura do texto, a voz narrativa, a escolha discursiva, o papel de cada personagem… enfim, tem sido um grande desafio dar uma cara a essa história que me agrade e que possa vir a agradar futuros leitores.
BLOG: Como você vê a questão da representatividade nos livros? Quais instruções você gostaria de dar para alguém que deseja trabalhar esse tema?
R: Primeiramente, não encaro a representatividade nos livros como um tema (a menos que seja um livro sobre representatividade), mas como um fato, um evento que deve ocorrer sempre. É indiscutível a importância de haver representatividade em qualquer esfera social. Mas vejo que existem duas coisas diferentes no âmbito: a representatividade nos livros e a representatividade na literatura. É fundamental que o mundo literário abra cada vez mais espaço para representantes de todas as vozes, aumentando a representatividade na Literatura, o que, acredito, ajudaria a aumentar a representatividade nos livros. Não quero insinuar, de forma nenhuma, que só quem faz parte de um grupo possa representar esse grupo, como algumas pessoas interpretam a questão. Nem que o autor que pertença a uma minoria deve se prender ao seu universo.
A Literatura é espaço livre de criação. Mas a presença de mais negros, mais pessoas da comunidade LGBTQIAP+, mais indígenas, mais pessoas com TEA etc, traria naturalmente mais presença de personagens diversos nos livros. No entanto, é importante que todas as pessoas tenham consciência do lugar em que se inserem e construa os personagens com responsabilidade.
É muito comum autores acharem que estão “abafando” só porque colocam em suas histórias personagens negras, gays, trans, indígenas etc, mas, por não conhecerem a realidade desmascarada dessas comunidades, escrevem através do véu de seus preconceitos, criando personagens caricatas, fazendo um desfavor aos movimentos que lutam pela igualdade. Muita gente acha que para o livro vender, precisa ter diversidade, mas jogar um personagem sem cuidado e sem necessidade na trama só faz a história parecer “forçada”. Quem representa por modinha não está representando, está em busca de likes e de uma maneira errada e perversa.
BLOG: O que tem lido ultimamente?
R: Sempre leio várias coisas ao mesmo tempo. No momento estou iniciando o segundo livro de Irmãos Karamázov, do Dostoiévski, numa leitura coletiva com mais duas amigas. Estou na reta final do Decameron, livro cuja leitura iniciei há quase quatro anos, lendo aos poucos as novelas ali presentes. Gosto de balancear as leituras mais densas com outras mais leves, então também estou lendo o sexto livro da série Outlander e um que comecei, havia abandonado e agora tornei a ler e estou quase terminando, chamado Escola de contos eróticos para viúvas, de Balli Kaur Jaswal, uma autora que eu não conhecia.
BLOG: Quais são as suas referências literárias? Quais os seus autores favoritos?
R: Tudo o que leio acaba me servindo de referência, até aquilo de que não gosto, é sempre bom prestar atenção no que não fazer. Meus autores favoritos são o grande Machado de Assis, Guimarães Rosa e José Saramago. Chimamanda e Lygia Fagundes Telles são duas grandes mulheres da literatura que eu admiro demais.
BLOG: Algum dos seus personagens foi inspirado em alguém real?
R: Como citado acima, no livro em que estou escrevendo, um dos personagens é totalmente inspirado no Roger Abdelmassih. Essa é a primeira vez que faço alusão direta a um personagem real. No entanto, busco em pessoas do meu convívio referências para a definição das personalidades dos personagens. Por exemplo, se crio um personagem e percebo que ele tem similaridades com alguém que conheço, procuro analisar as ações e diálogos me perguntando se Fulano faria daquela forma.
BLOG: Você possui algum ritual para escrever? Gosta de fazer roteiros ou simplesmente deixa a inspiração te levar?
R: Nem oito, nem oitenta. Não consigo definir um roteiro e seguir passo a passo a organização, a história vai tomando seus rumos, muitas vezes o que na minha cabeça ficaria ótimo, ao tentar transcrever o pensamento para a linguagem escrita perde o sentido e não passa o sentimento que eu pretendia.
Então, começo a deixar a história se contar para mim e vou alterando sem muito planejamento. Mas não dá pra tocar assim o tempo todo, em algum momento preciso resgatar as mudanças que fiz pelo caminho, colocar em ordem e replanejar os rumos da história. Inspiração, ou o que chamam de inspiração, pra mim é o processo de ter uma ideia, projetar uma história, até mesmo colocar os primeiros rabiscos no papel. Mas o que realmente precisa para ter um livro concluído e minimamente em condições de ser lido por outras pessoas é muita, mas muita transpiração. Escrever não é só colocar palavras no papel e contar uma história. Ser escritor é saber manipular as palavras com arte. E confesso que ainda estou aprendendo, engatinhando nesse sentido.
BLOG: Um defeito e uma qualidade?
R: Defeito: protelar a realização de muitas tarefas.
Qualidade: tenho gana pela busca de conhecimento.
BLOG: Um sonho?
R: Ganhar algum prêmio literário importante (ainda bem que a gente não paga pra sonhar! Rs)
BLOG: Quais as dicas que pode dar a um escritor principiante?
- R: Tenha clareza de suas pretensões ao fazer isso;
- Não romantize o ofício ou profissão do escritor;
- Prepare-se psicologicamente para gastar mais do que ganhar;
- Leia muito;
- Estude Literatura;
- Estude gramática (o revisor vai lapidar seu texto e não reescrevê-lo para você, conhecimentos básicos do funcionamento da língua permitem melhor elaboração do texto)
- Procure cursos ou canais sérios para aprender sobre escrita criativa e mercado editorial, não ache que treta do Twiter ou instagram vão lhe capacitar para lidar com a realidade que lhe cerca.
- E, claro, comece, não espere a grande inspiração, a ideia bombástica que vai lhe tornar um best-seller. Ela nunca virá se você não começar. E não tenha pressa em publicar, cultive seu texto pelo tempo que for necessário.
Biografia da autora com foto.
Nasci em Santo André, SP, moro em Jundiaí, tenho 45 anos, sou formada em Pedagogia e Letras e pós-graduada em Revisão de textos. Trabalho há 20 anos como professora de Ensino Fundamental numa rede municipal do interior paulista, faço bicos como revisora de textos e tomei a escrita como ofício há cerca de 10 anos. Sou mãe de dois adolescentes, gosto do mar, de gatos e de livros.
Vocês viram quantas dicas incríveis a Rose trouxe pra gente? Além de conhecermos um pouco das suas inspirações e autores favoritos, além do seu processo de escrita, somos presenteados com conselhos excelentes de uma incrível profissional da escrita. Não sei vocês, mas eu sempre que entrevisto um autor novo e recebo dicas assim, já presto muita atenção para aprender com quem tem experiência e conhecimento a passar.
Eu tenho seis livros lançados, mas isso não faz de mim melhor do que quem está lançando o primeiro conto, poesia, crônica ou romance. Eu estou sempre com sede de conhecimento como a Rose ♥
Obrigada Rose por essas maravilhosas contribuições, eu amei saber mais sobre você.
Eu também gosto bastante do Machado, embora tenha uma conexão mais forte com a Clarice Lispector, tanto que as minhas crônicas tem muito a influência dela em se desnudar para o leitor, e provocar reflexões com o que fala.
Gente, já li Insídia da Rose, e também Hiatos que em breve também terá sua resenha por aqui, pois já foi resenhado lá no instagram @blogmergulhonaliteratura para quem quiser conhecer. Super recomendo o trabalho da Rose, ela é uma das autoras referências para mim em conteúdos voltados para as mulheres com livros que realmente nos trazem evolução durante a leitura.
Gostaram? Até a próxima!
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