Resenha: Grito das Estrelas - Priscila Debly

        Obra: Grito das Estrelas 

       Autora: Priscila Debly                                                                                                              

       Gênero: Romance

                                                                               

       Editora: Coerência     

                                                                              

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       Nº de páginas: 200

 Sinopse: Tainara é uma mulher empoderada que, após crescer na aldeia Karajá sob os cuidados de sua tia, desenvolve uma peculiar relação com as estrelas: por meio de sonhos, os pontos de luz se comunicam com a jovem, levando até ela os gritos de vítimas de feminicídio. Ela presencia o medo que invade as aldeias de Santa Terezinha devido ao constante desaparecimento de mulheres, um conflito que envolve o tráfico de pessoas e a disputa de terras entre indígenas, grileiros e fazendeiros. E graças ao seu único amigo de infância e mais tarde seu amor da juventude, Rudá, ela é capaz de sentir-se amada e livre para lutar contra os seus pesadelos, assim como resolver seus conflitos internos e vivenciar a intimidade das relações amorosas com o índio. E, no meio dessa trajetória, Tainara alimenta uma curiosidade acerca de sua origem e descobre que há um grande segredo sobre sua mãe, quem ela nunca conheceu.

Porém, o impensável acontece mudando drasticamente tudo que ela conhecia. O adeus se faz necessário para que haja a possibilidade de um futuro melhor, não somente para Tainara, mas para todas as mulheres e indígenas que ela tinha como missão proteger e trazer justiça.

 Oi, pessoal! Hoje trago uma resenha deste livro incrível que eu li no mês de julho, eu me tornei uma das parceiras blogueiras da autora da obra, mas muito antes disso já tinha o desejo de ler o livro, tanto é que eu estive em seu lançamento na livraria cultura no ano passado e foi um dia muito especial em que pude conhecer a Priscila pessoalmente. Ela exala alegria e amor com seu jeitinho de ser ♥

 Grito das Estrelas foi um livro emocionante, intenso, impactante e inspirador, e eu o li na leitura coletiva dele que organizei juntamente com uma outra fã da  autora que é a Diana, só que eu não consegui esperar as meninas terminarem a leitura, eu li o livro em dois dias, acreditam? Eu comecei para dar um gás por que precisava finalizar a leitura de outros  livros que estou usando como pesquisa para o meu romance, e aí quem disse que eu conseguia largar Grito das Estrelas? Eu fui arrebatada para esse universo maravilhoso criado pela autora e fiquei imersa nele enquanto devorava as 600 páginas do ebook, embora também tenha em físico acabei optando pelo ebook pela praticidade para ler pelo fato de que tenho filha pequena, então é mais complicado administrar a rotina de blogueira com físicos do que com o kindle no celular, mas eu amo físicos, viu? Eu coleciono livros nas minhas estantes.

Taynara é uma jovem que foi criada por sua tia em uma aldeia indígena, o que sabe sobre sua mãe foi o pouco que a tia lhe contou, ela carrega consigo algumas das paixões de sua mãe como o gosto pela leitura, ela ama a liberdade que tem na aldeia, embora se sinta excluída um pouco por que ela não é filha de índia como as demais crianças, apesar disso vive feliz com seu melhor amigo Rudá, que a ama e aceita com seu jeito peralta.

As coisas se complicam quando Taynara se vê obrigada a ir embora da aldeia e sofre por ver aquele que ela tem como seu povo sofrer com a perseguição dos fazendeiros que querem tirar suas terras. Ela vai estudar em um colégio católico e tem que aprender novos costumes, é que eles chamam de ser civilizado. 

Mas Rudá não a esqueceu e fará de tudo para manter viva a lembrança daquela foi que seu amor de infância.

Anos depois eles finalmente se encontram e já são jovens cheios de aspirações e desejos, Taynara se dedica ao curso que escolheu para trabalhar e ele é um talentoso comerciante da região. A paixão entre eles reascende e enquanto a amizade se torna algo mais forte, ela também deseja ir em busca da sua origem, quer saber o que houve com seus pais por que se sente abandonada. 

Os dons xâmanicos começam a aparecer em sua vida pouco a pouco e ela tem sonhos fortes e cheios de significados, é aí que a autora inicia sua abordagem de um dos temas mais tocantes e importantes a serem falados que é o feminicídio. 

"Várias estrelas apareceram para mim no céu e se transformaram em um mar vermelho cheio de cabeças; não tinham corpos, apenas rostos desfigurados. Eram mulheres de fisionomias distintas que choravam e gritavam desesperadas no mar de sangue que se formara no céu negro."

    

  Me impressionou bastante os detalhes sobre as disputas territoriais e como o povo indígena sofre com tudo isso. Algo que me chamou a atenção durante a leitura também foi o fato de que ela trouxe reflexão acerca da mistura da cultura indígena  com outros costumes que utilizamos, o que me fez pensar no quanto os europeus foram invasivos ao quererem mudar os índios para que deixassem de ser "selvagens", o quanto a nudez das índias já incomodava antes e hoje muito mais por que existe um desrespeito a  tradição dos antepassados deles, e para muitos homens a nudez delas em rituais é um convite a atos obscenos, o que claramente mostra o quanto somos preconceituosos com culturas diferentes das nossas. 
   Foi inevitável a reflexão que a obra me trouxe a medida que eu prosseguia na leitura. Pensei muito  sobre a inserção do índio no nosso mundo, é verdade que isso facilitou algumas coisas para eles como o acesso a tecnologia, ao mesmo tempo que foi se perdendo desde os anos 70 o que caracterizava o povo Kajará, e as novas gerações talvez não valorizem tanto as tradições como as antigas por que elas sentem anseio de fazerem parte de um novo século, um novo mundo de mudanças.  Fiquei tão mexida com isso que quando acabei o livro me mantive absorta vendo documentários sobre este povo para aprender mais sobre eles,e foi em um desses documentários que eu obtive essa informação sobre o quanto a aproximação dos índios com os brancos mexeu com muitas coisas nos descendentes Karajás até o momento. 

"Muitas questões políticas e capitalistas destruíram o sistema antigo e assim se instaurou o caos na maioria das tribos espalhadas na região. O que se tem hoje é uma tribo à frente de seu tempo. As pessoas aqui vivem assoladas pelo medo, pela miséria, pela destruição da natureza e do patrimônio dos indígenas".

 Não tem como falar desse livro sem fazer adendos como o anterior por que ele é muito profundo, mexeu muito comigo em diversos momentos eu me emocionei e fiquei incomodada com aqueles assuntos, mas aquele tipo de incômodo bom, sabe? Daqueles que tocam o dedo na ferida e é como se você sentisse o impulso e o desejo de falar mais dessas temáticas para informar e ajudar pessoas que precisam.  Eu imaginava que a disputa territorial fosse algo que realmente causasse muitos problemas aos índios, e sabia disso por causa do livro que li e fala sobre suicídio entre o povo indígena, são citadas estatísticas e dados importantes sobre isso no livro Sobre viver da jornalista Cleisla Garcia. Foi este livro que me despertou curiosidade em saber sobre isso por que me solidarizei, mas jamais  pensei na minha mente leiga que havia abusos, tráficos de mulheres e crianças, que tantas coisas ruins assim acontecessem e nenhuma mídia mostrasse talvez  por que essa pauta para eles não interessa tanto, por isso a literatura é tão importante, gente. 

"Porém, a minha maior tristeza era ver tantas mulheres vítimas de abuso, violência e assassinatos ali na região, principalmente na minha aldeia. As brilhantes estrelas estavam mortas. Uma a uma, eram indefesas porque sofriam a dor de ser ainda mulher."

   Se a mídia não fala, a gente que é escritor arregaça as mangas, pesquisa e retrata nos livros um pouco da realidade para representar aqueles que sofrem e mostrar o que acontece e o que podemos fazer para ajudar. É por isso que tiro o chapéu para autoras como a Priscila que corajosamente criou uma linda história no Mato Grosso, que esteve em uma aldeia e teve contato com essa cultura para retratar fielmente ela no livro e que não teve medo de abordar temáticas tão fortes e recorrentes na nossa sociedade, afinal, feminicídio abrange todas as mulheres infelizmente.
  
  Voltando a história, Taynara precisa entender quem é e para isso quer respostas. Enquanto acompanha os noticiários da região, dentro dela cresce ainda mais a vontade de fazer algo a respeito para ajudar as  mulheres vítimas da agressão dos homens. Aos poucos ela encontra pistas que podem lhe ajudar a entender mais sobre sua mãe e arrancar o ressentimento que ela nutria por anos dentro do coração. 

"Estava sentindo meu coração pulsar. Percebi que estava presa, mas não presa porque alguém havia me colocado ali à força; eu estava trancada dentro da minha mente. Eu queria me libertar, mas não conseguia...Minha mente é uma gaveta cheia de mistérios, que só posso acessar quando estou plenamente tranquila e livre de caos".

 Rudá agora está um rapaz índio lindíssimo que arranca suspiros de todas as moças da região de Santa Terezinha, e Taynara tem que lidar com suas inseguranças até entender que o destino deles já estava traçado e que as estrelas eram a prova disso. Nada e nem ninguém poderia destruir a força imbatível desse amor que rompeu preconceitos e obstáculos de todos os tipos, pois só o amor verdadeiro é capaz de suportar tantas provações e se manter intacto como uma rocha. Esse casal é apaixonante, gente.  Quando falo que esse livro te faz se sentir em uma montanha-russa de emoções não é à toa, viu?  Quando você respira e sorri, de repente, vem uma bomba que te aperta o peito e faz seus olhos se derramarem, então se jogue sem medo de ser feliz nesse livro por que não vai se arrepender. 

"O universo me abraçava mais uma vez em meio às estrelas e à imensidão do céu. As estrelas sussurravam para mim, e foi nesse dia que tive a certeza de que o homem da minha vida nasceu para ser meu e que eu nasci para ser dele. Juntos formávamos uma constelação, iluminando toda humanidade"

  As peças do quebra-cabeças da história de Taynara vão se juntando e acompanhamos toda a sua jornada desde criança, adolescente e adulta, e todas as transformações vividas por ela até o momento final. A sensação que eu tive é que saí evoluída com essa leitura por que aprendi tantas coisas incríveis sobre esse povo, eu que sou uma admiradora da cultura indígena me senti encantada com cada detalhe, com cada elemento importante para eles e seus significados. Eu fiquei de ressaca por que não achava nenhum livro que me prendesse tanto como aquele, então me deixei mergulhar nesse universo até beber todas as informações que eu queria, eu não conseguia romper a ligação com o livro. Já sentiram isso alguma vez? 
  Para quem não sabe este livro é uma continuação de Espelho, Espelho meu, qual crush escolho eu? O qual nos apresenta a história de Anabelle que era uma jovem cheia de sonhos e talentosa, e acabou acometida pela esquizofrenia que mudou virou sua vida de cabeça para baixo. É por isso que para entender Grito das Estrelas é recomendável ler o anterior.
 Eu nunca vi uma obra abordar com tamanha profundidade, respeito e intensidade este tema que me tocou bastante como a Priscila fez em ambos os livros. 
  É um romance cheio de aprendizados e arrebatador, eu me tornei fã da sua escrita e mal posso esperar pelos próximos livros que essa mente fértil e criativa nos trará.  Eu te parabenizo Prih por mais uma vez me deixar sem palavras após uma leitura, só posso agradecer por você ter criado personagens tão maravilhosos como a Tay, Rudá, a Tia Aracy, as amigas da Tay do colégio interno. 
A verdade é que eu ficaria uma vida toda para descrever tudo que eu senti nesse livro, mas ainda bem que podemos surtar com você enquanto lemos o livro, às vezes só a autora mesmo para entender a nossa intensidade de sentimentos com a obra. Ufa!
  Guardarei esses livros para sempre no meu coração. Obrigada por nos ensinar a ter mais empatia e respeito pelas culturas diferentes, bem como nos fazer refletir para prosseguirmos na nossa caminhada de autoconhecimento. 

  Não posso esquecer de elogiar as citações de séries, livros, filmes e a playlist incrível que a gente encontra no livro. Gostei de muitas músicas, mas as minhas preferidas e que me acompanharam na leitura foram Camouflage da Selena Gomes, amo essa cantora e  Cut me da Chris Medina, que eu me apaixonei também ♥

 Deixo aqui a última citação por que ela já diz tudo, nada mais tenho a acrescentar. 

"A borboleta era a vida que estava sempre em processo de transformação. E essa roda-gigante que é viver estava ali para me ensinar que ela é um ciclo sem fim de autotransformação. Era a mais pura verdade, pois eu havia passado pela mais pura e profunda transformação. As minhas fases ovo, larva, casulo e nascimento eram a materialização de um projeto de vida novo para mim: meu renascimento."

Confiram o Booktrailer que está lindíssimo também ♥♥♥

   Se você também quer ter uma experiência extraordinária como eu tive, então dê uma chance a essa obra e absorva tudo que ela tem a te acrescentar na vida. 
  Encerro aqui as minhas impressões da obra e espero que tenham gostado. Ele é perfeito de todos os modos, uma capa de tirar o fôlego, uma diagramação impecável, ilustrações lindas, é só elogios para essa belezinha. A leitura é super fluída, a  Priscila tem um jeito de escrever gostosinho, sabe? Ela vai te envolvendo, te prendendo e quando você termina o livro não sabe mais o que fazer da vida ( risos).
Eu amei o livro e recomendo! 

Beijos e até a próxima!

Nota: 

 Biografia da autora

Priscila Debly Nascida em Tangará da Serra-MT, 1980, passou sua infância e juventude em Londrina-PR, onde pegou gosto pela leitura quando decorava dramaturgias e atuava na escola Municipal de Teatro. É docente Especialista em Letras PUC/SP e Mestranda em Literatura Brasileira pela Universidade Federal/SP. Suas pesquisas são dedicadas às escritas criativas, ao universo juvenil, ao indígena e às mulheres. Tem um amor imenso pela sua família, filho, animais, natureza. Sempre escreve contos, poemas e crônicas. Este é seu livro de estreia: um romance.