Resenha: Quando a escuridão bate à porta

RESENHA - Quando a escuridão bate à porta

Título: Quando a Escuridão Bate à Porta

Autora: Ge Benjamim

Editora: Sinna

Páginas: 186

Olá, pessoal!  Eu sou a Gyh, e esta será a primeira postagem do blog "Um Mergulho na Literatura".

Este blog terá resenhas, indicações de livros e também textos da minha autoria como contos, poemas e crônicas. 

Sinopse:

Quando as pedras no caminho impedem a travessia e as sombras da depressão engolem as almas atormentadas, resta apenas o desespero dos inocentes e o verdadeiro filme de terror se inicia. As feridas abertas causam dores insuportáveis, deixando somente lágrimas e, no fim, a sombra da morte encerra toda a luz interior. Na coletânea de contos “Quando a escuridão bate à porta”, cada escritor expressa bem estes sentimentos com personagens instigantes à espera de alguém para levá-los a um banho de sol.

Não poderia começar esta resenha sem antes dividir com vocês um pouco da minha experiência com o assunto abordado nesta obra: a depressão.

Tudo começou no verão de 2009,  quando eu soube do diagnóstico dado pelos médicos para o meu pai.  Ele estava sentenciado a ficar deficiente visual em pouco tempo, e não havia mais nada que pudesse ser feito para reverter isso, visto que o glaucoma é uma doença incurável e que vai corroendo o nervo óptico, ou seja, com o passar do tempo a pessoa começa a perder o campo de visão até que fique completamente no escuro.

Eu ainda tinha outros problemas que vieram de traumas da adolescência, e essa notícia do meu pai apenas fez com que eu me sentisse caindo dentro de uma cratera e sendo engolida por ela. 

Que perspectiva de felicidade eu poderia ter sabendo que um dia meu pai um dia não enxergaria mais? Era isso o que eu me perguntava aos 14 anos.  Na época, não tinha percebido que o que eu fiz foi apenas fugir da realidade por meio da escola, eu fiz o que Freud denominou como  estado de negação. É quando o indivíduo não consegue aceitar a realidade e prefere criar uma própria.

Para fugir da realidade que eu queria ignorar,  acabei fazendo escolhas erradas em nome do desejo de me tornar popular na escola. Eu era a aluna que estava presente e ao mesmo tempo não era tão notada. Sempre fui a certinha e regular no colégio, de repente, mudei completamente. Tornei-me o oposto do que sempre fui. Foi como se dali em diante houvessem duas dentro de mim. Uma dupla personalidade.

Na escola,  fiquei famosa e ser admirada pelas paqueras era como ópio para mim, algo viciante para meu ego. Era a minha droga:  a adrenalina.

Passei a seguir as regras do grupo para permanecer popular.  Esse foi um preço muito caro. Eu só percebi o quanto isso em nada reduzia a  minha dor quando tudo comecei  a ter outros problemas.Hoje, quase dez anos depois, compreendo que boa parte do que eu sentia na época era causado pelo Transtorno de Personalidade limítrofe  ou mais conhecido como Boderline. 

 Comecei a minha pesquisa sobre o Boderline há três anos. E aceitar que eu desenvolvi o transtorno na adolescência não foi nada fácil. Mas acredito que é importante que a gente faça uma análise de nós mesmos para que nos conheçamos mais a cada dia.

A Dra. Aline Saquetti  e meu psiquiatra e psicanalista Dr. Alisson confirmaram por meio de um teste com livro do DCM ( Manual de Diagnóstico de Transtornos mentais) que havia traços do transtorno de Boderline em mim. Isso explicava as minhas oscilações de humor, o medo que eu tinha de ser abandonada, o luto que eu sentia sempre que precisava terminar uma amizade. A compulsão por comprar coisas para me livrar da frustração ou por comer sem pensar no amanhã, além daquela sensação de vazio, como se estar rodeada de pessoas não fosse o suficiente para eu me alegrar.

Felizmente são apenas traços, não é nada que me impeça de levar uma vida perfeitamente normal, segundo meus terapeutas apenas precisaria ficar de olho para que nada saísse do controle e atrapalhasse minha tranquilidade, ou seja, procurar evitar que as crises  fossem mais fortes do que meu autocontrole. Não sei se vocês sabem, mas as pessoas que tem esse transtorno muitas vezes acabam descontando isso na arte. Cantoras como Demi Lovato, que provavelmente tem o transtorno, visto que ela já foi internada algumas vezes em clínicas para se tratar e já admitiu que tinha o hábito de ferir a si mesma quando estava mal, são alguns  exemplos de artistas que se libertam dos seus monstros interiores através da arte, ou seja,  no caso dela pela música, já no meu a libertação veio por meio da escrita.

  

Voltando a questão da depressão - pós parto, para que eu pudesse ficar mais tranquila Dr. Alisson me receitou um ansiolítico e antidepressivo  para que não tivesse mais as tremedeiras  e palpitações por causa do estresse, e  assim controlasse  os episódios depressivos também. Hoje me sinto bem melhor e ainda estou na fase da metamorfose da lagarta. Sinto que logo sairei da crisálida e poderei voar. Enquanto isso não acontece, eu espero a vida seguir em frente e me empenho em tudo que faço. 

 Como a escrita se tornou a minha libertação

Escrever sempre foi um hobby maravilhoso para mim. Comecei aos 12 anos com poemas,  aos 16 evoluí para contos e aos 18 iniciei romances. 
A minha professora de português começou a ler o que eu escrevia em 2011, época em que cursava o Ensino integrado, ou seja, o Ensino médio e técnico juntos. Ela me apoiou como escritora e foi a primeira pessoa no mundo a ver potencial e talento em mim. Eu acreditei nela e guardei suas palavras em meu coração: 
"Você tem talento, corra atrás de se desenvolver mais. Por que eu acredito que um dia passarei em frente a uma livraria e encontrarei uma obra sua lá".

Os meus amigos Fernanda Scheffler e Ramon Lucas constantemente conversavam comigo pela internet, e nos conhecemos por causa do Wattpad, pois eu  postava meus textos lá nesta plataforma digital, e ainda a utilizo hoje.

Além de trocarmos experiências literárias, eles me incentivaram bastante a arriscar participar de uma antologia. 
Eu resolvi topar o desafio e  escrevi o conto " No limiar do abismo" com minha filha de 4 meses no colo. Minha inspiração veio de filmes sobre a depressão como " As faces de Hellen"  e do conto " Poço e pêndulo"  de Edgar Allan Poe.
Minha amiga que além de escritora, também é revisora, me auxiliou com a revisão do texto e assim eu enviei para a Editora Sinna sem sequer imaginar que seria escolhida. 
Não posso descrever o quanto chorei de emoção ao saber que fui aprovada. Foi uma das maiores emoções da minha vida. Eu senti um misto de orgulho, superação e alegria.
Marcou a minha entrada para o mundo literário. Eu nunca vou me esquecer desse presente que a vida me deu e os céus também, pois eu acredito que depois das tempestades  o sol sempre volta a brilhar.

Esse conto dessa antologia me fez chorar durante a sua escrita por que a personagem Rute tem muitas coisas parecidas comigo. Assim como ela eu nunca me senti amada e querida na minha família ( me refiro aos parentes como tios e primos), sempre me senti tolerada, suportada por ser filha de quem sou, mas querida não. Eu só descobri isso fim da minha adolescência por que quando mais precisei deles não estiveram ao meu lado. Apenas pioraram meu estado por causa da depressão e do transtorno. Digamos que me tornaram a ovelha negra da família apenas porque eu parecia uma adolescente com comportamento rebelde e de mente conturbada, uma problemática. E é  muito mais fácil julgar quem está no lado mais fraco da corda do que estender a mão e tentar entender as causas dos comportamentos estranhos em um adolescente. 

A personagem  também sente uma grande culpa pelo que aconteceu com seus pais, assim como eu me culpava quando minha mãe me dizia que só estava com meu pai por minha causa quando era criança e também o disse  na minha adolescência, ou seja, eu me culpava pela infelicidade dela.

Rute tem complexo de inferioridade como eu tive e não tenho certeza se ele se foi completamente. Minha mãe sempre me comparava com a minha prima, o que fez com que ela virasse uma rival para mim. Parecia que se eu não fosse melhor que ela, minha mãe não me notaria.
Esse conto mostra que muitas vezes o que a gente precisa é de alguém que seja a luz, um vagalume na escuridão e nos guie até a porta de saída da caverna que a gente entra assim que mergulha em nossa dor.
Miguel é essa pessoa que ajuda Rute a encontrar-se com aquela garotinha que perdeu os pais cedo e deixou de amar a si mesma desde então.
É um dos contos mais importantes que já fiz na minha vida e fico muito feliz que ele tenha tido uma excelente recepção por parte dos leitores da antologia. Ele trouxe o impacto e a mensagem que eu queria causar.

Desculpem se o post ficou muito grande, mas eu precisava mostrar um pouco da minha história para  vocês. 
No próximo post falarei um pouco de cada um dos contos que mais gostei e a reflexão que eles me trouxeram.

Até mais!