Título: Diário de uma mente
Autora: Elane de Queiroz
Editora: Appris
Número de páginas: 106.
Sinopse: O livro Diário de uma mente é baseado em fatos da vida da autora. Trata-se do relato do curto-circuito emocional que teve ao ir trabalhar e depois ser internada em uma clínica psiquiátrica, sem entender o que estava acontecendo e o porquê da síndrome do pânico.
Oi, pessoal! Hoje trago a resenha desse livro que tanto me impactou na leitura ontem. Diário de uma mente é uma obra autobiográfica, portanto, a autora nos relata o que aconteceu com ela para ter ido para uma clínica psiquiátrica na Suíça, onde ela mora há alguns anos.
Elane divide conosco todas as suas memórias mais dolorosas e os traumas que estavam fechados em um baú no fundo de sua mente para que ela não sofresse ao lembrar daquilo. Algumas vezes a nossa mente faz isso mesmo, ela bloqueia as memórias que nos causam dor e faz com que esqueçamos daqueles assuntos por algum tempo.
Elane trabalhava em muitos turnos com extensas horas de trabalho, ela chegou a trabalhar por dezesseis horas, imagina só o quanto o corpo dela sofreu pelo desgaste por tanto tempo? Inicialmente ela nos relata que começou a sentir taquicardia em seu emprego, e outros sintomas que achou estranho e não entendia muito bem o que era no início, mas quando chegou ao hospital não demoraram muito a diagnosticá-la com síndrome do pânico, e agora ela precisava urgentemente aderir ao tratamento para resolver isso.
Ela titubeou assim que recebeu a notícia, mas recebeu o apoio de pessoas próximas e depois acabou aceitando a internação.
Ela nos conta como era a sua rotina dentro da clínica, seus medos, suas crise de pânico, as insônias, a falta de apetite e etc. Nós mergulhamos com ela na sua jornada, e é impossível não nos emocionarmos com a sua trajetória de vida.
No decorrer do livro percebemos que ela aos poucos encontra as chaves para abrir a porta que estava trancada em seu subconsciente, e assim precisa reviver os traumas da infância e adolescência para lidar com eles, e desse modo progredir no tratamento em direção à superação e a cura.
Elane desnudou a sua alma através deste livro e assim pude ver as cicatrizes que se formaram ao longo do tempo em seu ser.
Ela foi dada para a adoção assim que nasceu, mas algum tempo depois sua mãe biológica se arrependeu e a quis de volta, pediu que sua irmã a devolvesse. Elane foi criada pela mãe mesmo que ela não tivesse condições financeiras e muito menos psicológicas para tal, o que rendeu a pequena um enorme sofrimento, e assim ela ficou exposta aos perigos que existem por causa da maldade no coração dos homens.
A infância dela foi marcada pela violência física e sexual, e isso deixou sérias sequelas em sua vida para sempre. Elane foi abusada aos três, aos sete e até a adolescência. Quanta dor ela enfrentou, e quando penso nisso não sei se eu teria a mesma força para seguir em frente. Talvez acabasse perdendo um pouco a lucidez, não sei, digo isso por que passei por muitas coisas na adolescência, mas nada perto disso e senti que quase enlouqueci naquela época.
Elane vivia apavorada por que sempre que a mãe saía, o homem com quem ela se relacionava aparecia na casa e seu pesadelo voltava a acontecer. Ele arrancou a inocência dela e a sua pureza, e infelizmente ela não podia pedir ajuda a ninguém. Só pôde fugir para sobreviver apesar de sua alma estar dilacerada em função de tudo que lhe aconteceu.
Por volta dos 16 anos ela teve um romance com um garoto e engravidou dele, e aos 17 já tinha duas filhas, e precisou de muita força e coragem para lutar por elas, já que não podia contar com o apoio dos pais biológicos das meninas. Ser mãe solteira transformou-a em uma verdadeira guerreira, e ela sabia que apesar de todo seu sofrimento era preciso arregaçar as mangas e dar um futuro digno e mais feliz para as suas meninas. E ela faria tudo que pudesse para evitar que elas passassem pelo que ela viveu. Gabi e Ana Karolyne se tornaram as razões para Elane continuar vivendo, ou pelo menos tentando sobreviver mesmo com seus traumas.
Ela se dedicou tanto para trabalhar de dia e fazer cursinho durante a noite, que um dia uma grande oportunidade surgiu, e foi assim que ela foi trabalhar como babá na Suíça, depois disso surgiu outra oportunidade até que ela conseguiu se estabelecer de vez neste país que aprendeu a amar.
Um dia começou a trabalhar na rede de fast food na cozinha, depois foi promovida algumas vezes até que ocupou o cargo de gerente, função esta que ela exercia até o momento em que começou a ter os sintomas de síndrome do pânico durante seu expediente.
Elane relata que teve alta algumas vezes depois dos meses internada na clínica de psiquiatria, mas precisou retornar por que sentiu algumas crises de pânico enquanto estava em um avião ou viajando de carro para a Alemanha.
Ela começou a ter alucinações, ouvia barulhos estranhos e sentia cheiros que ninguém mais sentia. Isso a preocupou muito, e quando procurou saber o porquê estava sentindo aquilo, ela soube que tinha um coágulo em sua cabeça devido a um AVC, e não demorou a descobrir que precisava de medicamentos para afinar seu sangue por causa da presença de uma síndrome genética que poderia lhe causar sua morte.
A vida dela virou de cabeça para baixo. Imagina que você vai trabalhar e acha que está tudo bem, de repente, sente muitos sintomas e parece que vai desmaiar, pensa que seja infarto e quando chega no hospital lhe dizem que é síndrome do pânico? E como se não bastasse vieram vários problemas de saúde em seguida, pois além do AVC, ela também descobriu a possibilidade de ter trombose e também a presença de uma insuficiência cardíaca. É para deixar qualquer um desesperançoso, não é mesmo? Mas Elane mesmo em suas angústias manteve sua fé em Deus, e Ele foi a força de que ela precisou para não esmorecer diante de tantas adversidades.
O corpo dela estava sofrendo por causa da síndrome de Burnout, ela havia sido diagnosticada com ele assim que chegou na clínica. Este problema ocorre com diversos profissionais nas empresas por causa do excesso de trabalho, o que gera um estado de tensão emocional e estresse crônico devido a condições de trabalho desgastantes. A síndrome se manifesta em pessoas cuja profissão exige envolvimento interpessoal direto e intenso, como é o caso de líderes, e gerentes, por exemplo.
Profissionais da área da educação, saúde, assistência social, RH, agentes penitenciários, bombeiros, policiais, médicos, enfermeiros, gerentes, diretores e presidentes de empresas, além de mulheres com dupla jornada correm risco de desenvolver o transtorno.
O sintoma típico de Burnout é a sensação de esgotamento físico e emocional que se reflete em atitudes negativas, agressivas, ausências no trabalho, isolamento, mudanças bruscas de humor, irritabilidade, dificuldade de concentração, lapsos de memória, ansiedade, depressão, pessimismo e baixa autoestima. Dor de cabeça, enxaqueca, cansaço, sudorese, palpitação, pressão alta, dores musculares, insônia, crises de asma, e distúrbios gastrointestinais são manifestações físicas que podem estar relacionadas à síndrome.
E então faço uma reflexão se vale a pena se matar tanto de trabalhar a ponto do nosso corpo pagar o preço no futuro. Eu já me senti esgotada física e mentalmente quando precisava trabalhar em um call center, quase não descansava, não comia direito, chegava na faculdade à noite dormindo e mal prestava atenção nas aulas, fazia horas extras mesmo quase não aguentando mais de cansaço.
Eu saía de casa às 7h30 e voltava quase meia noite todos os dias. Raramente via meus pais e nunca tinha tempo para meu marido, pois estava sempre cansada e dormindo pelos cantos depois de voltar da faculdade. Eu não aguentava mais, então pedi demissão mesmo nem tendo completado os três meses, ainda mais pelo fato de ter passado por assédio moral na empresa, enfrentei um episódio doloroso em que fui exposta diante de quase trinta pessoas apenas por que eu errei em determinado procedimento. Foi cruel e me magoou bastante.
Quando eu percebi que só eu batia as metas de respostas nos e-mails na equipe, de modo que respondia até cem e-mails no mesmo dia, e a equipe enrolava o dia todo e só respondia vinte, percebi que não deveria dar meu sangue para aquela empresa que estava acabando comigo. Priorizei a minha faculdade em outubro de 2014, pois preparava palestras importantes que seriam vistas por muitas pessoas que visitariam a faculdade, e apesar de ter sido doloroso abrir mão do emprego mesmo tendo sido difícil ficar lá, foi a melhor coisa que eu fiz por que a minha saúde enfim poderia melhorar.
Não dê o seu sangue e a sua saúde para as empresas por que a maioria delas pouco se importará com você. As organizações não estão interessadas se você sofreu um acidente e vai ter que fazer reabilitação, ou se a sua mãe tem câncer e tem que se ausentar algumas vezes para acompanhá-la, pois ali você é só um robô para produzir, e quando acham que você não tem mais serventia, te mandam embora e colocam outro no lugar. Então não perca a sua saúde física e emocional por causa da empresa que você trabalha. Faça o seu melhor ali dentro, mas não se desgaste demais por que um dia seu corpo pode sentir os efeitos da estafa, e aí pode ser tarde demais para evitar que você adoeça.
Voltando à resenha, após uma das sessões de psicoterapia Elane foi diagnosticada com estresse pós- traumático devido ao quanto sofreu em sua infância e adolescência com abusos e estupros. O passado começou a bater à porta e ela precisou abrir para encará-lo, ainda que ele lhe causasse muita dor.
Elane travou uma luta conta estes sintomas:
- Paranoia na infância e na adolescência;
- Desconfiança das pessoas;
- Insatisfação consigo mesma;
- Instabilidade afetiva;
- Esquecimento de eventos recentes;
- Pesadelos;
- Alucinações;
- Burnout por excesso de trabalho;
- Depressão;
- Sensibilidade ao extremo;
- Dores crônicas;
- Amnésia dissociativa ( exemplo: comprar alguma coisa e não se lembrar);
- Dor emocional intensa ( como se o que viveu fosse recente).
Elane também tem marcas físicas do seu sofrimento como a sequelas do acidente por atropelamento que ocorreu durante uma fuga daquele que era o seu opressor e agressor.
A mãe dela morreu quando apenas tinha quatorze anos, e seu pai não tinha contato com ela, então precisou voltar a morar com sua tia por algum tempo, até que com a chegada das filhas ela foi morar sozinha em uma região de Recife.
Elane tinha todos os motivos para buscar o suicídio depois de tudo que enfrentou, e ela chegou a pensar nisso em uma das crises mais dolorosas e difíceis que sentiu durante sua estadia na clínica psiquiátrica, mas depois ela percebeu que apesar de tudo ainda valia a pena viver, e quem sabe um dia aquilo que tanto a feriu por dentro poderia ajudar outras pessoas a se reerguerem e superar também. Por isso ela começou a escrever o diário enquanto fazia o tratamento na clínica.
A escrita terapêutica é como é denominada a escrita voltada para a exposição dos traumas e dores de acordo com a psicologia e psiquiatria, portanto, pesquisas já foram feitas e comprovaram a eficácia desse método como complemento para a terapia. O paciente que escreve como se sente ajuda o terapeuta a compreendê-lo melhor, e isso faz toda a diferença para o progresso do paciente. Por meio da escrita o terapeuta terá uma visão mais ampla das coisas que acontece com seu paciente, e terá mais opções para montar as orientações que deve dar a ele para que evolua em seu tratamento.
A escrita está presente em minha vida desde os doze anos quando comecei a escrever poemas, aos dezesseis já escrevia contos enquanto participava da Olimpíada Nacional de História do Brasil pela Unicamp em minha escola, e no segundo ano em que disputei cujo foi 2011 fui semi-finalista da mesma junto com minha equipe. Nessa época escrevi meu primeiro conto de época mesclando cavalaria e Brasil Império, e de 2012 para cá não parei mais de escrever. Fui aprimorando a habilidade e notei o quanto isso me fazia tão bem. Hoje compreendo que sempre uso a escrita terapêutica para me ajudar a lidar com coisas do meu passado que antes eu não conseguia, e levo isso para os livros que escrevo quando os personagens enfrentam depressão ou algum tipo de transtorno mental, ou transtorno alimentar como a bulimia, por exemplo.
A escrita também foi uma válvula de escape para Elane assim como para mim. E me alegro por ela ter conseguido descrever suas dores e sofrimentos a fim de ajudar outras pessoas a proteger seus filhos para que não passem por abusos físicos e sexuais, para conscientizar colaboradores e empresários sobre a importância de cuidarem mais da sua saúde para não terem Burnout, e para ajudar outras pessoas com estresse pós-traumático a encontrarem forças para prosseguir em sua jornada rumo ao voo após a metamorfose a que foram submetidas.
Diário de uma mente tem apenas 106 páginas, mas a autora nos prende com seus relatos de uma forma que somos transportados para a Suíça e para tudo que ela estava vivendo. Ela traz uma mensagem de esperança e superação, e tornou-se inspiração para muitas pessoas pelas redes sociais, inclusive eu.
É um dos livros mais emocionantes que já li, e é a prova de que existe alguém além dos céus que cuida de nós por que ela teve todos os motivos para não querer mais viver, porém Deus a ajudou a encontrar razões para seguir em frente, e vencer uma batalha por dia. Alegrar-se com seu progresso e amar-se exatamente como ela é.
Enfrentar os fantasmas do passado e lidar com traumas é difícil, sei disso por experiência própria por que eu tive muitos também devido à minha infância e adolescência, o que no meu caso foram gatilhos para desenvolver os traços do transtorno de Boderline.
Essa é a razão pela qual eu escolhi estudar transtornos psiquiátricos. Eu quero entender a mente das pessoas e levá-las para a ficção a fim de que a literatura possa chegar aonde eu não posso ir, e eu possa ajudar alguém em depressão e que pensa em suicídio, alguém com compulsão alimentar e por compras como eu devido ao transtorno, alguém que pratica a automutilação para se anestesiar, já que a dor física algumas vezes é mais suportável para esse indivíduo do que a dor emocional, alguém que precise fortalecer a sua fé e acreditar em seus sonhos outra vez, alguém que não acredita mais na força do amor ou na família.
Se eu puder ajudar algumas dessas pessoas por meio dos meus livros, isso é tudo que me importa. Significa que eu vou cumprir aquilo ao qual me comprometi com Deus após um momento de dor e desespero em que pedi a minha morte. Eu disse que se fosse para eu viver, então que eu tivesse um propósito para isso e pudesse ajudar as pessoas que precisam na mesma situação em que eu estava, à beira do abismo, engolida por uma depressão profunda aos catorze anos, atormentada por pesadelos e falta de ar, coisas que eram relacionadas aos meus traumas.
Em dezembro de 2019 dez anos vão se completar desde que isso aconteceu comigo.
Mas pretendo cumprir a minha promessa feita naquele tempo por que se estou viva depois de um atropelamento em uma rodovia em santos, e outras coisas que ocorreram não é por sorte, é por que existe uma missão e eu a cumprirei.
Apenas quem sente que não há mais nada que o prenda nesse plano terreno é que entende a dor e o desespero de alguém que começa a pensar em sua morte. Eu não iria cortar os pulsos para ir para o hospital ou tomar remédios até desmaiar, eu queria que Deus me levasse para cessar aquela dor que me consumia 24 horas. Mas Ele acalmou essa tempestade em meu interior, e me fez ter um encontro com ele naquele quarto, foi real para me provar que Ele me amava e que não deveria desistir de viver.
Não estou aqui para pregar para você, isso é apenas uma experiência pessoal minha, então não é obrigado a acreditar no que eu falei. Aquilo marcou a minha vida e hoje eu me sinto inclinada a me compadecer mais com a dor do próximo, e farei tudo que puder para ajudar a quem precisa. Nós precisamos fazer o bem sem olhar para quem.
Um dia eu quero me tornar palestrante assim como a Elane para que a minha história de vida e a minha experiência possam ajudar outros jovens e adolescentes, principalmente por que eu quero ir nas escolas falar de vários assuntos importantes como a depressão, ansiedade, o bullying, os transtornos, abuso sexual e etc. A informação é a nossa única arma para evitar que mais pessoas sofram o que passamos.
E espero deixar marcas positivas nesse mundo com as minhas histórias assim como ela fez com seu livro que agora foi traduzido para o alemão e será de grande ajuda aos suíços. Eu torço para que ela possa traduzir para o inglês e espanhol também, pois é uma obra que merece que o mundo todo leia e seja impactada por ela.
Elane é tão iluminada que por onde ela passa as pessoas sentem isso. Ela é uma fênix que renasceu das cinzas, e continua no processo em direção ao seu progresso, mas se mantém firme, persistente e otimista que dias melhores sempre virão depois das tempestades.
Ela é o reflexo da força da fé e da força de vontade, da garra em viver e superar as dificuldades. É um dos maiores exemplos de ser humano resiliente que eu conheço, e eu espero ser cada vez mais resiliente como ela tem me inspirado a cada dia.
Eu sei que ficou extenso, mas esse assunto não poderia ser resumido, ok?
Eu gostei muito do livro, e o recomendo♥
Beijos!
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