Resenha: O outro mundo - Thalissa Betinelli

Título: O outro mundo 

Autora: Thalissa Betinelli

Onde adquirir:  ebook

Sinopse: As últimas recordações de Leonardo ao acordar sozinho em um campo aos arredores de Kilkenny, na Irlanda, eram de eventos que ocorreram cinco horas atrás.

Entre o desespero, um voo para pegar nas próximas horas e a loucura, Leonardo descobrirá que nessas terras antigas, há histórias que são contadas como lendas, mas que ocultam segredos e mistérios que ultrapassam as eras, envoltas de misticismo e mágica. Sua caçada às respostas começa no momento em que percebe que há sangue em suas roupas e nenhum sinal de Lucas e Gustavo, suas companhias na viagem.

E o caminho entre os bosques não só o levará a encontrar respostas, como também o guiará para O Outro Mundo.

 Oi, pessoal!  Hoje eu trago a resenha de uma novela de suspense e terror com elementos de fantasia que eu fiquei vidrada enquanto eu a lia anteontem, ela tem apenas 11 capítulos, mas que nos prendem em todos eles.
 Sabe aquele livro que você não consegue deixar de lê-lo para se alimentar ou fazer qualquer coisa ? Aquele em que você realmente devora aquelas páginas com gosto até o final? Pois é!  O outro mundo é esse tipo de livro que te faz perder  a noção do tempo enquanto você mergulha nessas páginas.
  Thalissa nos   transportará para a terra que é considerada o berço da magia, a terra dos druidas e das fadas, a  belíssima e fantástica Irlanda.  Eu me senti pisando naquelas terras, eu senti a adrenalina das cenas de suspense, foi uma leitura maravilhosa.
  A autora do livro nos apresenta a cultura local com muita riqueza de detalhes, o que me chamou a atenção por que não esperava menos dela que tem uma escrita incrível e envolvente como conferi em outra obra.

   Aqui temos a história de um garoto que viajou com os amigos para a Irlanda a fim de conhecer mais dessa terra incrível, mas as coisas começam a ficar estranhas quando ele acorda em uma floresta completamente ensanguentado sem conseguir se lembrar o que aconteceu e onde seus amigos foram parar.

   Leonardo fica desesperado por respostas  e refaz todos os passos onde esteve nas últimas horas com seus amigos, mas não consegue encontrá-los,  e isso o deixa cada vez mais angustiado. A medida que ele continua a investigar o desaparecimento dos amigos começa a se deparar com lendas locais e misticismos da região, o que coloca suas crenças contra a parede por que não parecia  haver explicação lógica para o sumiço de rapazes durante festivais e solstícios com até 30 anos, muito estranho não é? 

  Cada vez que o Léo se aproximava mais da descoberta do que houve, mais medo ele sentia e mais coisas estranhas iam acontecendo com ele, o que deixa a narrativa  bastante eletrizante, e faz o coração do leitor bater acelerado.

"O medo latejava como uma cobra que se enroscava no meu pescoço, avançava para dentro da minha boca e serpenteava por todo o meu interior, devorando-me. Envenenando-me"

  

   Aos poucos uma figura misteriosa na história começa a ganhar seu destaque, temos aqui a Mab que aparentemente parecia uma sombra seguindo o Léo,  e depois ela é que vai revelar a verdade oculta e os eventos que aconteceram enquanto o garoto esteve desacordado.
     A verdade é que ele se lembrará que esteve em um ritual em outro mundo, e neste evento houve um bacanal para fertilização das fadas presentes e para que ele ascendesse como o novo Cernunnos a fim de quebrar a liderança antiga que colocaria a população dos feéricos em risco ao entrar em contato com os humanos para dominá-los.

   Leonardo foi o único que sobreviveu aos inúmeros testes com a solução mágica e poderosa que lhe concedeu uma nova consciência, um novo ser. Mas a transformação dele em um novo deus celta não é nada rápida e muito menos indolor, é um processo que acompanhamos com ansiedade. 

   O medo é a primeira reação do ser humano ante ao perigo, é perfeitamente normal e conforme se passam os capítulos nos sentimos tão apreensivos quanto o Léo para entender tudo que estava acontecendo .

 "Já te disseram que a morte tem cheiro? Eu a senti naquele momento, nas minhas mãos, nas minhas veias, batendo no mesmo compasso do meu coração. Na mesma lentidão da minha respiração".

  Viram a imagem da  linda ruiva com trevos da sorte? Mab se apresenta com cabelos ruivos no começo para Léo, só depois ela mostra sua verdadeira identidade. E  segundo as crenças desse povo o trevo tem uma importância enorme para a mitologia celta, e além disso, há mais uma curiosidade que talvez nem todos saibam, mas eu já sabia um pouco por que minha  antiga professora de inglês uma vez nos falou em sala de um festival interessante que tem a ver com esse verdinho aí. O Saint Patrick´s day, ou seja, dia de São Patrício e é comemorado no dia 17 de março, e os irlandeses chamam o trevo de Shamrock.  Este evento é comemorado em todos os países ingleses que festejam a data com pessoas usando cabelos ruivos, vestidas de verde com trevos e com cerveja.

 Voltando aos personagens de Outro mundo...

  A principio Mab se mostra ao Léo como uma  moça simples, mas esconde segredos sombrios, e com o tempo revelará uma   vertente das fadas que nem todos querem ver, seu lado cruel.

   Mab, se revela ser na verdade ser a Maeve, a princesa das Fadas que é a líder do exército rebelde que quer destronar seu irmão para ocupar seu lugar por que suas atitudes colocariam o mundo deles em risco, e para tanto ela estava disposta a tudo para treinar o garoto que poderia se tornar sua maior arma e também seu triunfo para a vitória, no entanto, ela não esperava que surgisse entre eles uma paixão avassaladora e que nos envolve durante a leitura.  Por meio dela Léo conhece a história do povo da fadas que viveu escondido por milênios  depois que o cristianismo se expandiu e marcou o paganismo como alvo a ser extinguido o máximo possível. Fazemos uma viagem sensacional por essas lendas antigas e conhecemos os dois lados da personalidade desse povo por que se por um instante eles parecem bonzinhos, aí é que você se engana, meu caro por que eles não tem piedade e misericórdia se for necessário apagar vestígios sobre seus segredos, o que os torna um pouco sanguinários. 

  Além disso, a história do povo féerico traz uma reflexão sobre a convivência deles com os humanos que se torna impossível por que o mundo acima é mais propenso a arrogância e ao poder, vence aquele que for mais forte mesmo que para isso tenha que se jogar sujo muitas vezes, e sabemos disso pelos escritos sobre as grandes guerras que aconteceram com reinos dominando os outros para expandir seu poderio e subjugando os demais.   O que torna um livro de fantasia ainda mais incrível por nos fazer refletir enquanto estamos imersos na história.

 "Se a humanidade se levantasse contra as outras crenças, o outro mundo precisaria ficar oculto até que a inteligência fosse maior do que a gana por poder".

 

   Entendemos  que Cernnunos é um deus celta responsável pelo controle das florestas, controla as colheitas  dos animais, senhor da fertilidade,  protetor daquele mundo mágico, ele tem dois chifres na cabeça, pelos e garras afiadas. Segundo o que se acredita nas lendas celtas os deuses com chifres possuem grande inteligência e poder para agir no mundo terrestre.

   Com o tempo Léo entende que ele morreu para a vida anterior como humano, e que agora sua responsabilidade transcende qualquer conhecimento e experiências que ele teve antes.

 O outro mundo é de fato um livro que nos deixa extasiados, já li outro livro de fantasia da Thalissa, que foi A bordo e pretendo terminar Ao Mar que é a continuação dele com  piratas e todo mundo envolvendo as marinhas e navios, conflitos ao mar, e posso dizer que ela acertou em cheio nessa narrativa por que eu sou fã de mitologias e cosmogonias, gosto de estudar por curiosidade e por achar interessante ver como outros povos e civilizações entendiam como o mundo se formou, entre minhas favoritas estão as mitologias: grega, nórdica, indígena, egípcia, e a celta aqui presente. 
Aqui mais uma citação para aguçar a curiosidade de vocês:  

"Eu era o começo, meio e fim. Como deus pagão, pagando minha punição e compreendendo minha nova essência, aprofundei-me nos bosques infindáveis do outro mundo, que agora me pertenciam".

 E agora temos uma pesquisa que eu fiz sobre a Maeve  para que entendam mais sobre ela, caso mais alguém tenha ficado interessado em conhecer a  história da rainha das fadas. É legal ver os elementos utilizados pela autora na narrativa, o bacana das histórias de fantasia é justamente isso, você pode pesquisar lendas antigas de outros povos e se inspirar nisso para criar uma narrativa sensacional que prenda seu leitor e o deixe curioso para entender de onde você tirou aquilo. Um exemplo disso é as famosas crônicas de Nárnia que eu amo, a tão bem falada Corte de Espinhos e Rosas que tenho muita vontade de ler, assim como Trono de Vidro por que eu vi o nome da Maeve ser associado a essa série, além da conhecida série de JR. Tolkien, O senhor dos anéis. Cada uma tem um cenário detalhado e que leva o leitor a imaginar todos os lugares, e acredito que algumas tenham usado sim mitologias antigas em algumas coisas, não as li para ter certeza, mas sei por Nárnia por que vi todos os filmes lançados até então e acredito que a feiticeira tenha sido inspirada na famosa rainha do gelo que não era tão boazinha como a nossa querida frozen.

 Fiz esse adendo junto com a resenha por que são curiosidades bem interessantes que achei, espero que gostem.

  E agora vamos conhecer um pouquinho mais sobre a famosa Maeve.

 RAINHA MAEVE

Medb em irlandês antigo (pronuncia-se “Mêv“), também escrito como Meadb, Méabh ou, simplesmente Maeve, Maev ou Maive é uma rainha de Connacht no Ciclo de Ulster (conjunto de histórias que falam sobre os heróis de Ulster) da mitologia Irlandesa. Freqüentemente cultuada como Deusa por ter exercido poder e fascínio entre seus súditos.

O Festival Pagão de Mabon era comemorado em sua honra. Medb simboliza o poder feminino e é a personificação da própria Terra e sua prosperidade. É uma mulher muito bela e forte, dotada de uma mente brilhante, estrategista hábil, talhada para enfrentar todo o tipo de batalhas. Muito segura de sua feminilidade e sexualidade. Diziam que possuía um apetite sexual voraz, mas é um erro vê-la como inconveniente e lasciva que utilizava a satisfação sexual com a finalidade de ganho egoístico. Ela ofertava aos seus consortes uma taça bebida como seu sangue. O cálice de Medb representa o o vinho da sabedoria das mulheres.

  Maeve, segundo a lenda, era uma das cinco filhas de Eochardh Feidhleach, rei de Connacht, foi uma rainha irlandesa celta, frequentemente cultuada como deusa por ter exercido poder e fascínio entre seus súditos na sua época. Uma mulher muito bela e forte, dotada de uma mente brilhante, estrategista hábil, talhada para enfrentar todo o tipo de batalhas. Seu nome significa "Mulher ébria" ou "rainha-loba". Reinou sobre Connacht, e pertenceu ao Ciclo de Ulster. 
  A deusa da guerra, participou efetivamente de vários combates, pois as mulheres nesta época e nesta cultura, não eram vistas como frágeis ou incapazes e lutavam bravamente. Tinham o poder de escolha de seus maridos com seus respectivos dotes, além disso, optavam pelo divórcio se estivessem insatisfeitas ou infelizes. Este período foi anterior a disseminação da ideia de um deus monista relacionado a ascensão do patriarcado, portanto, até então as mulheres exerciam outro papel dentro desta sociedade.

Foi também um símbolo de sexualidade plena e exuberante, assim como a Vênus na cultura romana, ou Afrodite na Grega. Maeve tinha o poder de escolher seus parceiros. Sua relação com a sexualidade nada tinha a ver com promiscuidade, ao contrário disso, era saudável e magnética. Nessa época não era difundido o conceito de pecado cristão, o corpo e o prazer eram vivenciados sem malícia, venerados e respeitados dentro daquela cultura.

                                                      Túmulo da Rainha Celta

Diz a lenda que Rainha Maeve foi enterrada a oeste da cidade de Sligo, Irlanda. A tumba pode ser acessada pela a Queen's Maeve Trail( trilha da rainha Maeve) que fica em Strandhill. Acredita-se que rainha viveu por volta de 3000 A.C

Retirado de Dez mil nomes-  Fonte da pesquisa

  

   Parabenizo  a autora pela ideia da história e espero que ela realmente faça uma continuação por que Léo ou Cernunnos e a Maeve merecem mais uma história deles e do seu povo.♥♥♥
 Fiquei maravilhada com tudo que li. Foi um desafio escrever essa novela de suspense e ela se saiu muito bem, deixando suas leitoras ávidas por mais um pouco desses personagens tão incríveis.
 Amei e recomendo!

                                                                    Nota: