Resenha: Sobre viver - Cleisla Garcia


Sobre viver: Como ajudar aqueles que você ama a se afastar do ...

Obra: Sobre viver 
Gênero: Não-ficção 
Autora: Cleisla Garcia
Editora: Benvirá
Nº de páginas: 248
Lançamento: 9 de fevereiro de 2018.
Onde encontrar:Livro físico na amazon
Livraria Martins Fontes
Buscapé

Sinopse: 
Quando foi escalada para participar da série de reportagens Suicídio: Alerta aos jovens, da Record TV, a jornalista Cleisla Garcia não podia imaginar os relatos que ouviria ou os dados aos quais teria acesso. A cada entrevista sobre o tema, uma nova porta se abria e revelava não apenas estatísticas assustadoras como o aumento de mais de 12% no número de suicídios entre jovens brasileiros em pouco mais de uma década e o crescimento de casos em várias regiões do mundo, mas também o que é possível fazer para ajudar quem está pensando em tirar a própria vida. O que leva pessoas aparentemente saudáveis e felizes a cometer suicídio? Quais sinais quem está pensando em se matar emite antes de, de fato, tentar? Como agiam os curadores do jogo Baleia Azul, que recrutavam jovens para seus desafios mortais? Filmes e séries, como 13 reasons why, podem mesmo levar pessoas a cometer suicídio ou, na verdade, servem de alerta para pais e familiares? Em Sobre viver, Cleisla aprofunda sua pesquisa e vai muito além do que foi revelado na TV. Aqui, ela traz respostas para essas e outras perguntas por meio de relatos de jovens que tentaram tirar a própria vida, familiares que buscam se reerguer após a perda trágica de um ente querido, médicos, psicólogos e voluntários que lutam pela prevenção ao suicídio causa de morte que já ultrapassa o número de homicídios e mortes em conflitos armados no mundo. Preocupada em seguir as cartilhas da Associação Brasileira de Psiquiatria, do Conselho Federal de Medicina e do Centro de Valorização da Vida (CVV) sobre como divulgar casos de suicídio sem incentivá-los, Cleisla nos oferece um relato delicado e transformador sobre como lidar com um assunto que está, infelizmente, cada vez mais presente na nossa vida.



   Olá, pessoal! Hoje trago a resenha de uma obra que li entre abril e maio, escrita pela jornalista Cleisla Garcia, que se originou da série que ela trabalhou pela rede record sobre o tema de suicídio e a onda de mortes ocorridas por causa de um jogo mortal, o baleia azul.
   O suicídio não é uma coisa de agora ou desse século, é algo que afeta ricos, pobres, crentes, descrentes, famosos ou anônimos, jovens e idosos. 
   Há diversos casos de grandes celebridades e artistas que tiraram a própria vida pelo desespero ou impulso em um momento de profunda crise existencial.  O que nem todo mundo sabe é que algumas mortes apelidadas de acidentes de trânsito ou com arma de fogo, overdose não intencional, contaminação por medicamento, agrotóxico ou pesticidas podem muito bem ser um autoextermínio disfarçado.
 Falar sobre suicídio virou um tabu. Incomoda, parece que traz mau agouro, tira a calmaria da vida daqueles que acham que está tudo bem no seu "maravilhoso mundo purpurina", aquele tipo de pessoa que vive na sua bolha de vidro onde nada de ruim pode acontecer, ou se acontecer não vai lhes atingir.
   A verdade é que falar sobre suicídio não vai influenciar outros a seguirem este caminho, apenas se a abordagem for tratada de maneira inconsequente, pode provocar tendências suicidas, mas se for feito com cautela, respeito, empatia e de modo informativo, pode ajudar quem precisa ou já passou por algo parecido. 
    Aquele que escolhe o suicídio é por que perdeu todos os outros meios para se agarrar a alguma esperança de seguir vivendo e ele não suporta mais estar de luto em vida, continuar se sentindo morto por dentro caminhando a esmo e vazio pelos anos seguintes. A este alguém falta um propósito existencial que nada mais é do que encontrar uma nova razão para sorrir mesmo em meio a dor devastadora que o faz agonizar todo dia em busca de alento, é uma alma pedindo socorro atrás de olhos sofridos e uma mente repleta de cenas de um filme de uma vida cheia de momentos mais infelizes do que felizes. São vidas que teriam tudo para florescer, mas alguma coisa aconteceu e o solo secou, não foram regadas, não puderam desabrochar e exalar um belo perfume da sua essência.
 " Vidas que escapam da vida por medo do não viver"

   Cleisla Garcia não tem medo de tocar na ferida social,  ela traz o tema novamente aos debates. Este livro é um compilado e fruto da série de reportagens exibida pela Record TV, intitulada de "Suicídio- Alerta aos jovens", em que ela entrevistou diversos jovens, adolescentes, adultos  que tentaram suicídio e sobreviveram, que desistiram de tentar e outros relatos dos pais daqueles que se foram levados pelas águas por um oceano de dor e sofrimento.
  Em 2017 houve uma onda de mortes que causaram medo e preocupação nas pessoas, e a causa delas vinha de um jogo letal em que as fases e os desafios incluíam práticas de mutilação, situações de exposição e que deixaram o Brasil inquieto. O Baleia Azul  chegou aqui com bastante poder destrutivo, era mais um dos jogos sádicos e macabros  que se tornam um perigo para jovens e adolescentes que podem facilmente serem manipulados por mentes psicopatas por trás das telas ou dos celulares na internet.

  Segundo dados da Associação Brasileira de Psiquiatria e a OMS, para cada pessoa que se suicida, de cinco a seis pessoas entre amigos e parentes da vítima serão afetados direta ou indiretamente por isso, então é certo que precisarão ser acompanhados por médicos e psicólogos.
   Neste mesmo ano uma famosa série começou a ser muito comentada e havia quem quisesse evitá-la e outros que traziam seus temas à tona, a polêmica "13 reasons Why", da Netflix. Eu gosto muito dessa série por que até hoje nunca tinha visto um seriado ter o culhão de falar desses assuntos abertamente como estupro, assédio, abuso físico, psicológico e sexual, bullying, cyber bullying, depressão e claro suicídio, é óbvio que a cena da Hanna na banheira cortando os pulsos em direção a morte foi forte, mas descobri neste livro da Cleisla que é engraçado como a arte imita a vida, e uma jovem muito antes do seriado estrear já tinha tentado a mesma coisa duas vezes e falarei do caso dela mais a frente por que há muito o que se falar sobre o tema. 
   A psiquiatra Alexandrina Meleiro afirma que se algo bom aconteceu com a chegada do jogo do Baleia e o seriado foi enfiar o dedo na ferida das pessoas, desafiaram a sociedade moderna,  até obrigar as pessoas  a falarem disso nas escolas, debater o assunto para evitar  que novos jovens se perdessem.

  "Vimos de perto as marcas ainda recentes das mutilações conduzidas e voluntárias, o sofrimento de pais impotentes, perdidos e apavorados, lutando, quando ainda havia tempo para lutar, para salvar os filhos de uma prática originada na Antiguidade e que agora fora remodelada na era digital, com mortes online em, tempo real".

    Muita gente pensa que só jovem, adulto ou idoso pode tomar este caminho principalmente por que no último caso pessoas com mais de 70 anos tem a tendência de sofrer uma crise da terceira idade, que pode acometer qualquer um nesse novo estágio da vida e os motivos não variam muito: solidão, viuvez, doenças crônicas,  falta de perspectiva, sensação de inutilidade por afastamento do trabalho ou por invalidez no caso de doenças em que o idoso necessite de um cuidador o tempo todo, o que é algo preocupante infelizmente.
   Mas nem todos esperam que uma  pré-adolescente de 12 anos opte pelo suicídio, mas foi isso que aconteceu com Carla Hidalgo, a estudante que despencou da janela do seu andar e tirou o sossego do porteiro do prédio ao encontrar a menina envolta de uma poça de sangue com poucos sinais vitais.      Carla ficou na UTI se recuperando de múltiplas fraturas  e uma hemorragia grave no pulmão. Ela estudava nos melhores colégios, morava num bairro de classe média alta, mas ela se sentia a princesa bastarda, fora do seu lugar.  Ela se cobrava demais para ser perfeita e no sexto ano a mente emitiu o sinal de angústia e isolamento, mas era tênue demais para a família  notar que havia algo errado com a menina.  Ela começou a beber aos 10 anos em festas familiares, e nas vezes em que se sentia solitária encontrava companhia na internet. Viver para ela era cumprir metas, ser perfeita e quando ficou de recuperação na escola perdeu o chão. Ela falhou em matemática e na vida. Então em desespero ingeriu remédios, quebrou utensílios no apartamento. Perto da meia-noite, de repente ela caiu da janela.  

"Não existe um único porquê, o existe é um bolo de razões não tratas, que vão se acumulando até você achar que não consegue mais suportar  tudo aquilo, e chega um momento em que você nem sabe o que incomoda ou dói mais". 

   A baleia azul de verdade quase foi extinta no século XX pela matança por causa da caça potencializada, já em relação ao jogo do encalhamento que se inspirou  no que acontece com baleias que saem do mar para morrer,  o que se sabe é que  tinha sido criado para induzir o suicídio na Rússia em 2015.
Em 19 de abril de 2017, um estudante de 17 anos tentou se matar em Bauru, no interior de São Paulo, depois de atravessar madrugadas em diversas sessões de autortura. Ele acreditava que a dor física  não era só um desafio, era como uma punição para o próprio sofrimento.  Por mais estranho que pareça, a dor dos cortes levava embora um pouco da  agonia daquela alma adolescente. Finos cortes nos braços e nas pernas, que ele tentava esconder. A postagem que ele fez no Facebook culpando a baleia de tudo foi o que o impediu de consumar seu  desejo. A polícia interviu e ele foi salvo. 
  Uma integrante da equipe de Cleisla se infiltrou em grupos da internet e simulou cortes em si mesma com ajuda de especialistas em maquiagem, a fim de obter provas contra um dos curadores e com isso eles iriam levar o que descobrissem para a  polícia prender o tal homem por trás da alcunha de Calango, ou melhor, o psicopata carioca que sentia prazer em ver o sofrimento de jovens  buscando seu auxílio para morrer. 
  Os psicopatas são pessoas com deficiência em caráter, normalmente se sentem superiores ou são megalomaníacos, não sentem culpa ou empatia por ninguém, tem comportamentos impulsivos, criminosos, são pessoas frias, racionais, manipuladoras e alguns até encantam suas vítimas,  cometem crimes bárbaros sem que a vítima possa se defender, por isso serial killers se encaixam nesse  perfil. traços de psicopatia podem surgir desde a infância.
   Conhecem a história do Flautista de Hamelin?  É um conto folclórico dos Grimm que se passa em um povoado bucólico alemão, em 1284. A vida lá era pacata até que ratos apareceram e perturbaram a paz dos moradores. Para acabar com isso um forasteiro foi contratado e ele usou sua flauta para hipnotizar os animais e fazê-los o seguirem para fora da cidade em direção a floresta, porém ao voltar para buscar seu pagamento o encantador de ratos foi escorraçado aos berros dali, e assim ele foi banido da cidade. Semanas depois, o flautista voltou com uma música diferente, a melodia hipnótica afetou as crianças que o seguiram numa grande corrente, e assim nunca mais os filhos de Hamelin foram vistos e uma depressão aguda surgiu  causada pela avareza, ganância, arrogância dos moradores que estavam mergulhados em profunda melancolia. O descumprimento do acordo lhes custou muito caro. E a Baleia Azul se tornou a flauta cibernética que liderou muitos jovens sem identidade,  imersos em conflitos pessoais e psicológicos em direção a um fim trágico e cruel. 

 Em 11 de abril de 2017 o corpo de uma garota de 15 anos foi encontrado em um lago e este fato agitou a cidade de Vila Rica, no interior no Mato Grosso, uma menina que aparentemente tinha tudo, uma boa família, amigos, mas que foi influenciada pelo namorado a jogar o jogo e eles combinaram que ele morreria atropelado e ela, afogada, porém seria feito apenas aos 18 anos.  A represa que fica no bairro nos Inconfidentes era perto da escola da menina e lá foram encontrados seus chinelos, e tempos depois seu corpo enfim foi encontrado e a mãe pode se despedir da filha amada.
Como os adolescentes são mais imediatistas e impulsivos pelo fato de que não tem maturidade emocional e cerebral, e tem mais dificuldade em lidar com conflitos e problemas, situações de término de relacionamentos ou situações vexatórias, bem como rejeição pelo grupo social, fracassos escolares ou perda de entes queridos.  É comum o perfeccionista e a autocrítica serem exagerados nessa fase da vida,  entre outras questões como exposição ao bullying, o que geram fatores de risco.

 Além de tratar desses assuntos, me chamou a atenção a questão do suicídio entre os índios, eu era completamente leiga acerca disso e fiquei estarrecida com os números registrados pelos órgãos responsáveis pelas comunidades indígenas.  Eu sou alguém que admira a cultura indígena, acho muito interessante alguns costumes e a maneira como eles entendem a origem do mundo. Nas tribos do Pará e do Amapá, nas etnias tembé e Kaxuayana, assim como em outras tribos existem rituais que marca a passagem para a vida adulta, entre eles a moça pode ter a cabeça raspada e passar por períodos de isolamento. Mas me assustei ao saber que na tribo Sateré Mawé, na  amazônia, para mostrar sua masculinidade os adolescentes são desafiados a suportar as mordidas de formigas de até 3 centímetros, as temidas tocandiras. A dor de cada  picada  pode ser tão dolorosa quanto um tiro, e o  pior de tudo é que a sensação pode durar 24 horas e causar convulsões, e para ser aprovado eles podem repetir esse processo outras vezes durante a vida. Chegou a me arrepiar quando soube.
  A adolescência acaba sendo um período que marca um rito de passagem, é um tempo em que é preciso deixar a criança para trás e ao mesmo tempo começar a procurar respostas sobre si mesmo e quem quer ser, tudo isso traz um conflito muito grande por que o adolescente que desafia o perigo  está buscando experiências e acha que nada vai acontecer com ele, mas ai é que se engana.  O Baleia Azul está no mesmo grupo de outras formas de experiência como os rachas, roletas-russas ou experiências com álcool e drogas.
   Adolescer é a fase do confronto para partir em busca de ideais e posições diferentes diante da vida. Deixar a fantasia para enfrentar a realidade que não é acolhedora como os sonhos infantis assusta e nem sempre é fácil  encarar essa nova fase sem ser assolado pelas dúvidas e inseguranças.

   Outro fato que me impressionou foram as estatísticas mundiais e as do Brasil acerca da morte dos índios. A comunidade indígena sofreu os impactos do avanço tecnológico e do modernismo nas cidades, o que somado a outros fatores os adoeceram. Segundo dads do ministério da saúde em 2012 houve 52 suicídios indígenas, e 555 kaiowás se suicidaram entre 2000 a 2012 por causa de uma forte disputa por terras que envolveu 50 mil índios no Mato Grosso, ao se sentirem desamparados, desassistidos e ameaçados, eles abraçaram a morte, foi um suicídio coletivo. O que me fez refletir que mesmo neste povo que em teoria estaria a salvo das  doenças emocionais, a mente foi perdendo o controle diante da tensão que viviam em busca dos seus direitos e o desespero foi maior do que tudo.

Benvirá Oficial בטוויטר: "O que leva pessoas aparentemente ...
   Se a adolescência é uma etapa complicada, a velhice também é uma passagem que pede atenção. A terceira idade coloca em queda o equilíbrio mental, psicológico e emocional por questões físicas e sociais.  Segundo estatísticas entre 1996 e 2007 houve 91 mil mortes auto provocadas no país, e 14,2% dos casos, as vítimas tinham  mais de 60 anos. Além disso, a mortalidade é alta após seis meses de aposentadoria justamente por que os idosos não se sentem mais úteis para o que faziam antes e muitas vezes se sentem desvalorizados na família, muitos acabam abandonados em asilos por que  se tornam um problema para os filhos ocupados com suas vidas, o que é triste, mas é uma realidade hoje em dia, então tudo isso acaba corroborando para o adoecimento dos idosos. 

  Para o psiquiatra Neury Botega, o suicídio é um assunto complexo, sem explicação e solução simples. Há suicidas bem-vestidos, bem- formados, bem-sucedidos,  inteligentíssimos,  divertidos, piadistas por que suicida não tem cara. A superfície parece gelo branco, mas há um iceberg escondido. 
  Atualmente os distúrbios mentais nesse século são objeto de estudos e pesquisas profundas, o triste é que antigamente a mulher agitada, criativa, incansável,  que dá o sangue pela empresa, que se consome em insônia, que se for bem- sucedida  vira modelo a ser seguido ainda que recolha seu estado depressivo. Se ela tivesse um transtorno de humor e  houvesse nascido no século passado seria posta em um hospício, principalmente se viesse de uma família sem recursos, poderia até mesmo ser uma das  60 mil vítimas  do Barbacena. 
Ainda bem que nossa medicina evoluiu e os médicos estão mais capacitados para os diagnósticos corretos a fim de ajudar a população com o tratamento correto para ter uma vida um pouco mais "normal" ou próximo disso, afinal, todo mundo merece recomeçar.

    Eu me identifiquei com alguns casos que li no livro, pois se assemelhavam com um pouco do que vivi, especialmente o de uma jovem que sentia uma tristeza profunda, que queria se desligar do mundo dormindo horas e horas seguidas, e que se incomodava com o barulho das pessoas, mas no meu caso foi só isso, ela infelizmente precisou de internação clínica e teve que ser amarrada para sua própria segurança por que ficou muito agressiva  e agredia quem tentava ajudar. Ela foi diagnosticada com bipolaridade, um transtorno de humor que varia entre fases de euforia extrema com alegria excessiva, em que o paciente fica mais sociável, agitado, ativo, confiante e se sente onipotente e profunda tristeza. Por isso são usados medicamentos para estabilizar o humor além de antipsicóticos e antidepressivos. 

  Alguém se lembra do caso em Goiânia com que culminou na morte de adolescentes em um colégio particular?  O atirador usou a arma do pai que era policial e feriu colegas de 13 anos que morreram no local e outras vítimas tiveram ferimentos leves. A tragédia dividiu opiniões, de um lado julgamentos e ofensas, do outro acusações por bullying cruel, até onde se pode ir em um ataque de fúria? 
  Os episódios de bullying no ambiente escolar, além dos históricos de violência física e moral, xingamentos, preconceito aumentam o número de agressões na escola e contribuem para o crescimento das taxas de suicídio entre adolescentes e jovens.  Segundo as estatísticas Brasília lidera como a capital do bullying com 35,6% dos casos apontados pelo IBGE, seguida de Belo Horizonte com 35,3% e Curitiba com 35,2%.  O bullying atinge todas classes sociais, e muitas vezes o agressor que pratica isso é uma vítima de agressões em casa e procura vítimas frágeis e sem defesa para descontar isso.
Só no Brasil 12 mil pessoas tiram suas vidas por ano e o CVV tem dedicado todos os seus esforços para ajudar quem precisa conversar, desabafar,  ou de acolhimento naquele momento crucial da sua vida. 
  Em várias fases as mulheres estão mais sujeitas a quadros de depressão e suicídio, e o risco aumenta na adolescência, na gestação ( e eu sou um caso claro disso, alguém que já tinha traços depressivos da adolescência, que teve altos e baixos ao longo daqueles anos, até que puft fiquei grávida no  fim de 2016, e a depressão pós-parto veio de brinde no puerpério). 
   Mulheres também tem a propensão a terem depressão na menopausa que é outra idade complicada de transição para elas. Nesses períodos, segundo os psiquiatras, as chances de agravarem os sintomas depressivos podem chegar a 20%.

   Muitos casos me impressionaram durante a leitura dos capítulos, mas entre eles um dos que mais mexeu comigo foi o caso de uma entrevistada que foi violentada dos 8 aos 11 anos, e tentou suicídio algumas vezes, até encontrar o diagnóstico do transtorno de personalidade Boderline e fazer terapia para viver novamente.  Para quem não sabe o TPB se caracteriza como um transtorno de personalidade inflexível e abrangente que começa na adolescência ou no início da vida adulta e causa prejuízo e sofrimento.  Os portadores tem instabilidade emocional, impulsividade, tendência manipuladora de comportamento, baixa autoestima, sentimentos de desamparo, e medo de rejeição e abandono.  
Existe a instabilidade afetiva, relacionamentos intensos e instáveis ( eu te  amo hoje, te odeio amanhã), são instáveis com a autoimagem, tem sensação crônica de vazio, a raiva é intensa e sem controle, a automutilação é repetitiva e muitas vezes causada pela culpa e o ódio que ele tem de si mesmo e das suas falhas, então ele se fere como uma punição,  ideias suicidas podem surgir, e também há as  ideias paranoides de perseguição. 

   " A menina cresceu sendo embalada por um  trauma silencioso ao ouvido alheio, mas ensurdecedor dentro da própria ama. Uma dolorosa puberdade adoecida avançando sobre uma mulher adulta cheia de dor e lembranças amargas".

   A mutilação ainda é um tabu e alguns exemplos dela são queimaduras, furos pelo corpo, cortes nas pernas, braços, costas, locais escolhidos para não serem vistos, e por mais que pareça estranho que pareça, eles relatam que, quando dói o braço, a perna esquecem temporariamente do sofrimento.  Isso acalma a angústia momentânea. 
 Muitos que sentem uma explosão de raiva por impulso já esmurraram a parede, se queimaram no fogão ou arrancaram o cabelo.  As mutilações podem ser temporárias, mas podem esconder doenças e transtornos que devem ser tratados. Ela é um grito de socorro, mas que por vergonha, os que as praticam escondem. 

   Voltando a falar do CVV aqui nesta obra aprendemos como é o sistema de trabalho deles  e achei isso sensacional, o Centro de Valorização da  Vida ajuda a salvar vidas todos os dias com a arte de ser bons ouvintes e exercedores da empatia. 
    A obra termina com uma reflexão sobre buscar a felicidade ou deixar que ela nos encontre, pois para ser feliz é preciso deixar lembranças ruins e ressentimentos no passado, só assim se pode viver o presente. A felicidade se faz com coisas simples como a interação com o outro, não apenas realizando sonhos. 
    E por fim preciso falar do posfácio, o relato da filha da peruqueira que é a autora desse livro. Cleisla nos conta em detalhes  o que sua mãe lhe contou sobre seu irmão mais velho a quem ela não pode conhecer infelizmente. Clay foi perseguido e foi vítima da psicopatia presente em um menino maior que ele que tinha quase quatro anos quando  morreu. Para salvar a mãe grávida de seis meses da irmã o menino se pôs na frente da arma que o colega pegou do pai que achou que tinha tirado todas as balas dela, o tiro acertou o garoto no peito, a mãe teve a criança, mas perdeu seu primogênito e sofreu 40 anos pelas lembranças daquela noite que seu filho faleceu nos seus braços, e seu pai foi morrendo aos poucos a cada dia. 
  A bebê trouxe alegria e fazia os pais rirem de vez em quando, recebeu o nome provavelmente em homenagem ao irmão. A família teve mais um filho, a peruqueira enfrentou uma guerra com câncer de mama, mas venceu. 
   Cleisla quando teve ideia de escrever o livro entendeu o que lhe  disseram quando ela ouviu que para ouvir de coração a dor do outro e ajudar, é preciso curar as próprias dores. 
   Me debulhei em lágrimas com esse texto dela, como mãe nem posso imaginar o que a mãe dela passou ao se sentir impotente por que o assassino do seu filho era uma criança psicopata e filho de uma pessoa influente. 
     A autora esteve palestrando em alguns lugares na época do lançamento do livro. 
Foi emocionante e enriquecedor aprender mais de um assunto que me interesso tanto. 
     Eu amei o livro  e recomendo! 
  

Nota:
                                 


Jornalista Cleisla Garcia palestra sobre prevenção ao suicídio em ...

Cleisla Garcia é formada em Jornalismo pela Universidade Federal de Goiás, Cleisla começou  a carreira aos   17 anos, na redação do jornal Diário da manhã, em Goiânia.

  Em 2007 foi premiada pela série "Guerreiras do Brasil", a luta das mulheres dedicadas a cidadania e pelos direitos humanos, e menção honrosa em 2008 pelo prêmio " Camboja, o reino destruído". Em 25 anos de carreira a jornalista do núcleo de reportagens especial do Jornal da Record, já realizou coberturas especiais em vários países da Europa, Ásia e África. 


Instagram da autora: @cleisla 


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