Oi, pessoal!
Hoje eu estava escrevendo um conto para um desafio de escrita de um grupo de autores, ao qual participo e foi impossível não chorar um oceano de lágrimas enquanto eu viajava para o passado, e me lembrava da época em que eu mais fui feliz.
Resolvi compartilhar com vocês este conto que eu escrevi e que me impactou bastante, pois me fez refletir que existem laços que construímos ao longo da vida e que são eternos enquanto duram.
Boa leitura!
As pessoas dizem por aí que a infância é a idade mais feliz da vida, e que precisamos aproveitá-la ao máximo por que o tempo é rápido como um piscar de olhos. Hoje consigo perceber isso com maior clareza enquanto olho meu álbum de fotografias e mergulho em uma grande nostalgia. Sinto imensas saudades do tempo em que eu era feliz de verdade com pequenas coisas, aquelas mais simples mesmo.
Lágrimas teimam em
escorrer por minha face enquanto olho para a foto de meu melhor amigo de
infância. Henrique e eu nos tornamos parceiros desde o pré-escolar, íamos e
voltávamos juntos da escola. Eu adorava
estar em sua companhia por que através dele toda a solidão que eu sentia por
ser filha única e não ter atenção dos meus pais se dissipava. Ele e eu
brincávamos todas as tardes na rua, às vezes jogávamos futebol, outras vezes
ele me fazia as perguntas de curiosidades sobre os bichos e eu tinha que
acertar para vencê-lo, e também adorávamos correr pelo bairro do Jardim San
Diego em nossas bicicletas. Ah, o mundo era nosso!
Henrique era meu
companheiro e eu o amava muito. Imaginava que a nossa amizade seria para sempre
e talvez quando fôssemos adultos a gente se casaria. Eu costumava usar aqueles
anéis de plástico que a gente encontrava nas lojas de doces, e dizia que era a
minha aliança com ele. Tudo era divertido ao seu lado, tudo tinha mais graça
com ele em minha vida. Nós criamos uma conexão de alma de uma maneira que eu
jamais poderia ter com outro alguém.
Mas tudo mudou quando
estávamos na sexta série e ele me procurou no intervalo para conversarmos.
— Gi, eu preciso te
contar uma coisa séria. — Ele puxou meu braço para acompanhá-lo, pois eu estava
conversando com outras colegas de minha classe.
— O que foi? Você parece
triste como se fosse chorar.
Ele respirou fundo e me deu a entender que
algo grave aconteceu. Meu coração
acelerou e fiquei tensa diante do que ele estava para anunciar.
— Eu vou me mudar para
Sorocaba, é isso. Meus pais decidiram e eu tenho que ir com eles. — Lágrimas
começaram a escorrer pela face dele, e eu também comecei a chorar por que eu ia
perder o meu melhor amigo e talvez nunca mais o visse.
— Quando você vai?
— Nesse fim de semana,
então por isso só tenho hoje para me despedir de você e dos amigos que a gente
tem no bairro, a nossa turma. Vou sentir tanta falta de vocês!
— Eu não vou te esquecer, pois você sempre
estará em meu coração. — Nos abraçamos e eu não podia imaginar o buraco que a
ausência dele me causaria.
A família de Henrique
mudou-se para o novo endereço em uma manhã de sábado, e eu não tive forças de
vê-lo partindo por que meu coração ficou em pedaços. Eu não poderia tentar negociar com seus pais
para que não fossem embora, pois se eles tomaram essa decisão era por que
aquilo seria o melhor para todos. Decidiram vender aquela casa e recomeçar em
um lugar distante. E eu só podia desejar que os céus me ouvissem e meu amigo,
meu irmão de alma fosse muito feliz mesmo que longe de mim.
Na
minha adolescência eu não tive forças para nadar contra as marés que queriam me
derrubar, e abri a porta para que a escuridão entrasse. As pessoas do bairro
achavam que eu estava viajando, mas na verdade, eu não tinha vontade de sair e
preferia ficar reclusa em minha casa.
Que graça teria ir para a
rua se não escutaria a gargalhada do meu amigo? Se a gente não iria perder a
noção do tempo enquanto estivéssemos juntos? Se a gente não escutaria nossas
mães nos chamarem para tomar banho e jantar? Pouco a pouco todos os cinco
integrantes da nossa turma também se separaram, e cada um foi viver a sua vida.
De repente aquela rua que
era tão animada e cheia de crianças brincando se tornou deserta por que a era
da internet chegou, e agora todo mundo tinha condições de ter seu próprio
computador em casa para acessar o MSN e o Orkut.
10 anos se passaram e a minha vida mudou muito
desde 2007, a última vez em que havia visto meu amigo. A internet me fez
encontrá-lo e ele veio me visitar em 2017. Revê-lo foi maravilhoso por que ele
me fez muita falta, e talvez se ele estivesse por perto eu não teria me afogado
no oceano de tristeza que engoliu desde aquela época. E mesmo que estivesse
triste ele sempre saberia como me fazer rir até das maiores bobeiras que só os
melhores amigos entendem.
Luís
Henrique, a quem carinhosamente chamávamos de Rick, construiu sua vida do zero
e se tornou um jovem muito bonito. Já não usava mais os cabelos curtos, agora
tinha cabelos negros na altura dos ombros e uma barba bem feita, o que lhe deu
certo charme. Já que ele sempre foi bem magrinho e eu dizia que ele não
engordava por sorte, enquanto que eu só aumentava a barriga com o passar dos
anos. Sempre fui um pouco mais gordinha do que as outras meninas magras da
quarta série, mas meu amigo não olhava para minha aparência e eu nem para a
dele, a gente via a alma pura e feliz um do outro.
Ainda que o tempo tenha
feito sua aparência mudar muito, ele ainda tinha o mesmo sorriso de menino
travesso como os que eu me lembrava. Ficou claro que ele também não me esqueceu
por que o meu lugar em seu coração ainda existia, e com ele estavam guardadas
em sua memória todos os momentos felizes que vivemos juntos.
Foi
aí que eu entendi que a vida algumas vezes leva as pessoas para caminhos
paralelos aos nossos, mas se o laço que construímos foi verdadeiro, então um
dia nossos caminhos se cruzarão novamente por que laços são eternos enquanto
duram.
Henrique
me ensinou o que significa o amor de um amigo e a parceria, e quando adulto me
mostrou que a distância jamais conseguirá apagar a conexão que tivemos. Aprendi
que a cada pessoa que entrego uma parte do meu coração quando o considero um
amigo, eu recebo uma parte dela também, e pode ser que a amizade não dure
tantos anos, mas o tempo que durou foi especial e importante naquele momento.
Cada pessoa que entra em nossas vidas deixa um pedacinho de sua essência em nós
e isso pode nos fazer evoluir como seres humanos, pois a vida é uma metamorfose
constante.
Por
isso viva intensamente cada momento que puder passar com o seu amigo e tatue em
sua alma as lembranças dos melhores momentos por que um dia só restará as
saudades do tempo que se foi.
Gyh Oliveira
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