Resenha:Espelho, Espelho meu, qual crush escolho eu?

Obra: Espelho, espelho meu, qual crush escolho eu?

Autora: Priscila Debly

Páginas: 200

Editora: Coerência

Onde Comprar: Editora Coerência / Saraiva

Sinopse:   Após enfrentar uma infância difícil, Anabelle se torna uma jovem estudante de Direito que não conhece o significado da palavra amor. Sozinha na vida, ela precisa sobreviver à realidade caótica de São Pauto, conciliando trabalho e estudos em uma sociedade machista e corrupta enquanto luta para manter sua autoestima alta. Sempre engajada em causas sociais, mergulha de cabeça na luta pelos direitos de igualdade das mulheres e na busca por um país livre da corrupção, traçando uma trajetória repleta de empoderamento feminino. 

E é quando Anabelle pensa que só a dança é capaz de aliviar sua alma desprotegida que ela se vê completamente apaixonada por dois rapazes: Daniel, estudante de Filosofia, forte, carismático, inteligente e dono de um sorriso encantador, e Phillippe, um colega de turma que conquista uma frota de admiradoras com seus olhos azuis enigmáticos, grande defensor dos direitos dos seres humanos. Será algum deles o príncipe encantado capaz de desvendar os mistérios por trás da mente conturbada de Anabelle, libertando-a de seus traumas do passado?

Esteja pronto para se surpreender com uma história que, definitivamente, vai muito além do que parece. Às vezes, o que você pensa que é verdade pode não ser.

  Oi, pessoal!

Hoje trago a resenha do livro "Espelho, espelho meu da Priscila  Debly", um dos livros mais emocionantes e impactantes que eu pude ler nesse começo de ano. Já começo falando da capa maravilhosa com um espelho quebrado e a imagem de uma moça nele, o que ficou perfeito para o que a história vai tratar e mais a frente vou contar para vocês o motivo pelo qual a escolha dessa capa para mim foi uma das mais perfeitas e assertivas que já vi, a diagramação também ficou muito bonita e foi meu primeiro contato com o trabalho da editora Coerência, e posso afirmar que já imaginava o padrão de qualidade deles, mas ter visto com meus próprios olhos foi muito melhor. O livro ficou belíssimo, assim como o ebook que também li na amazon, e amei.

  Vamos à resenha agora!

   Anabelle é uma jovem de 18 anos que é estudante de direito e trabalha em um emprego que não a faz feliz, ela é apaixonada por dança e o balé é uma das poucas coisas em sua vida que lhe dão enorme prazer.  Sua gata Rajada lhe faz companhia em casa  e a relação delas é muito fofa, os bichinhos realmente entendem os seus donos apenas pelo olhar, não é?

  Ela mora com sua amiga Sofia e se esforça para seguir em frente depois de tantos eventos traumáticos no seu passado.

   Espelho, Espelho meu  não é o tipo de livro com um mero clichê romântico,  não espere que seja uma história parecida com chick-lit quando se lê o subtítulo que indica que ela terá que escolher entre dois rapazes, na verdade, a obra é muito enriquecedora em conhecimento e soube trabalhar temáticas como  a política, a democracia, a desigualdade social, os direitos das mulheres, a violência doméstica, o perigo de relacionamentos abusivos,  o abuso infantil, a importância do empoderamento feminino, e transtornos emocionais de uma forma sensacional. A autora abarca todos esses assuntos na narrativa sem deixar o livro pedante, isso nos inspira a sermos seres humanos melhores e nos importarmos mais com a dor do nosso próximo.

 "Demorei muito tempo para enfrentar meus terrores. Mais uma vez, eu me deparei com pensamentos, o desabrochar de um orquestra desafinada que soava em meu coração. Era como se um turbilhão de  emoções viesse ao meu encontro, minhas memórias se enchiam de tempestades de cores, todas elas num só encontro e ritmo, dançando à minha frente. Eu estava no meu quarto de infância, no interior de São Paulo. Um início cheio de demônios que nunca deixaram de me perturbar. Desde que tudo aconteceu, evitei encarar os fatos".

     

  Anabelle não é o tipo de jovem que gosta de se enturmar logo de cara, e nisso somos bem parecidas por que eu também não costumo fazer amizades rapidamente, prefiro ficar no meu canto com meus fones e um bom livro, mas se alguém vier falar comigo eu o tratarei de maneira simpática e gentil. Eu tenho esse lado meio antissocial quando estou em lugares que não conheço ou que me deixam um pouco desconfortável ( risos),  então fico mais quietinha e a protagonista também é assim, tanto que em uma das saídas com sua melhor amiga ela recebe  praticamente uma advertência para que se entrosasse mais com as pessoas e não se isole como a sua psicóloga havia lhe dito na terapia. 

 A autora nos leva de volta a um dos momentos inesquecíveis da história da democracia brasileira que foi justamente os protestos nas ruas por um país melhor e mais justo em 2014. Eu consegui imaginar exatamente como  tudo aconteceu por que a Priscila nos permitiu isso por meio dos detalhes que ela inseriu na narrativa, inclusive foi nesse dia que a Anabelle viu pela primeira vez um garoto lindo loiro de olhos azuis, que frequentava o curso de Direito em sua faculdade.  Tempos depois ela cruzou com ele novamente nos corredores da faculdade, o nome dele era Phillipe.

  O príncipe de  olhos azuis é fofo e encantador, e bem popular na faculdade, o que gera em Ana um pouco de ciúmes e algumas paranoias, o que é compreensível, já Daniel é um rapaz negro, muito bonito, com sorriso atraente, estudante de Filosofia, um grande revolucionário e sonhador, um homem que adora crianças e que tem um  coração gigantesco que poderia ensinar ao mundo na prática o que realmente significa o amor ao próximo. 

   Pela minha descrição já dá para perceber que no começo eu gostei do Phillipe, embora tenha caído de amores pelo Daniel por que também me sinto como ele e a Ana em algumas coisas, eu vivo refletindo sobre a vida e a sociedade, não consigo ver injustiças e ficar quieta, seguir minha vida como se nada estivesse acontecendo, sinto que preciso fazer alguma coisa para resolver aquilo não importa  se não puder protestar nas ruas, eu arrumo um jeito de colocar aquele assunto nas pautas de escrita.

 "Fiquei, por um instante, perplexa ao notar como o mundo se transformara diante do caos do silêncio humano. Os diálogos, os sorrisos, o olho no olho não eram mais tão importantes num mundo que parecia fadado ao egoísmo e às correntes da tecnologia."

   Provavelmente foi por isso que me apaixonei muito mais pelo Daniel de sorriso estonteante,  e pela sua personalidade entusiasta que combina comigo, mesmo tendo suspirado inúmeras vezes com as cenas lindas de romance entre a Ana e seu príncipe de olhos azuis. 

    O dia do protesto do #vemprarua deveria ter sido memorável de uma maneira positiva, mas não foi exatamente assim para  Ana que por determinação do destino levou lembranças tristes daquele dia. Um acidente de carro a leva para o hospital e fisioterapia, inicia-se então a batalha dela para se reerguer e derrubar o espírito negativista e derrotista que a tomou dentro do quarto pelo medo de nunca mais poder usar uma sapatilha de ponta e dançar seu amado balé, é emocionante ver seu esforço e dedicação, e o quanto o amor de Phillipe se fortalece e amadurece com  o tempo mostrando que o amor realmente tudo suporta e tudo espera, ele é a força mais poderosa que existe. 

      Fantasmas do passado assombram Ana por que sua alma guarda muitos traumas do tempo em que viu uma figura masculina espancar sua mãe e causar nela lembranças terríveis e dolorosas que nenhuma criança jamais deveria ter em vida, tirar a inocência de uma criança é como arrancar um pedaço do ínfimo do seu ser, e a falta dele vai causar transtornos emocionais por toda vida, e que se não forem tratados podem ocasionar sérios problemas para aquele adolescente e adulto que um dia foi ferido por quem devia protegê-lo. O tema de abuso infantil é um dos assuntos que mais me tocam, sinto na minha alma a dor daqueles que viveram algo assim e a escrita nos permite a catarse para mergulhar nos sentimentos do narrador, então é possível imaginar o sofrimento de Anabelle quando ela descreve suas memórias mais perturbadoras.

     "Se os valores da sociedade estavam invertidos, como poderia eu, justo eu, ficar inerte a tanta desumanização e caos?".      

    Depois da luta de Ana para se superar e seguir em frente, ela finalmente consegue tomar a decisão sobre qual das opções lhe era melhor, porém você vai se surpreender com a reviravolta no final dessa história assim como eu que fiquei boquiaberta com a forma como tudo terminou e a explicação para pistas que a autora foi deixando para o desfecho do livro. 

   O livro é curtinho e tem bastante saltos no tempo, mas a narrativa foi perfeitamente construída e por isso eles não trazem problemas na compreensão da história. 

Acredito que a intenção da autora ao usá-los foi para que o leitor percebesse como ficou o estado mental da Ana após anos por ter vivenciado muitos eventos traumáticos da infância, e que agora a levam para um novo diagnóstico médico que lhe exigiria paciência para tratar e que se apoiasse totalmente no amor incondicional de  Phillipe.  Fiquei emocionada com o final e meus olhos marejarem no último parágrafo. 

   Este é um livro recheado de lições e reflexões que tiram o leitor da zona de conforto e o fazem pensar bastante no mundo e na sociedade, é o tipo de obra que faz um verdadeiro rebuliço dentro da nossa mente. São obras transformadoras assim me trazem esperança de um mundo mais justo e igualitário quem sabe, ou de um mundo onde as pessoas consigam olhar para além de si mesmas e percebam que amar, ajudar e se importar com o próximo é como fazer um carinho da sua própria alma por que fazer o bem sem olhar a quem é o mesmo que ter uma alma mais altruísta como nos ensina o livro " O monge e o executivo", uma das referências que a autora usou no romance, nos fará mais bem do que possamos imaginar.    

  A autora usou diversas referências literárias dentro dos capítulos que nos dão uma aula de sabedoria e quem estiver com a mente e o coração aberto terminará a leitura pensativo e com um sorriso no rosto por todo o conteúdo absorvido, pois foi exatamente assim que eu fiquei.

  Este é um livro que você precisa ler nas entrelinhas e prestar muita atenção, aqui a realidade e a idealização andam juntas, mas a verdade é que elas não podem caminhar de mãos dadas, então será preciso fazer uma escolha e sabemos que cada escolha tem suas consequências. 

   Parabenizo a autora pela história fantástica  que ela criou e pela coragem em abordar todos esses temas com maestria como ela fez. Foi o primeiro contato que tive com a escrita dela e posso dizer que é envolvente e apaixonante. 

Eu amei e recomendo! 

Nota: 

Biografia da autora:

Priscila Debly Nascida em Tangará da Serra-MT, 1980, passou sua infância e juventude em Londrina-PR, onde pegou gosto pela leitura quando decorava dramaturgias e atuava na escola Municipal de Teatro. É docente Especialista em Letras PUC/SP e Mestranda em Literatura Brasileira pela Universidade Federal/SP. Suas pesquisas são dedicadas às escritas criativas, ao universo juvenil, ao indígena e às mulheres. Tem um amor imenso pela sua família, filho, animais, natureza. Sempre escreve contos, poemas e crônicas. Este é seu livro de estreia: um romance