Título: O destino contará minha história
Autora: Cris Rodrigues
Editora: Coerência
Número de páginas: 377
Onde adquirir: loja coerência e
Amazon: ebook
Sinopse:
Augusta é uma mulher rica, amargurada e solitária que não vê sentido em sua existência, pois arruinou a vida de todos ao seu redor. Aos oitenta e cinco anos, detesta sua vida a ponto de desejar morrer. Porém, em uma reviravolta, ela recebe a chance de voltar ao passado e refazer sua trajetória, mas com duas condições primordiais e delicadas.
Prepare-se para uma história que atravessa um século, passando pela Segunda Guerra Mundial, a semiescravidão nas lavouras de cacau na Bahia, o preconceito com mães solteiras, a síndrome de Down e a modernização do país por meio da tecnologia. Aqui, você encontrará suspense, ironia, redenção e doses cavalares de emoção.
Afinal, quem nunca pensou no que faria se pudesse voltar no tempo? Augusta pôde, e o destino contará sua história.
Hoje trago a resenha de um livro espetacular que eu li nessa semana, que é " O destino contará minha história" da escritora Cris Rodrigues.
Augusta surge no começo do livro já idosa e muito amargurada, uma mulher que se detesta e tornou a vida de todos um verdadeiro inferno por que não soube aproveitar as chances que a vida lhe deu de ser feliz e ser realizada, mas estranhamente um homem todo de preto aparece em sua casa e só ela pode vê-lo, e ele se apresenta como o destino, ela acredita que ele veio lhe atormentar, mas aos poucos ela compreende que estava errada, na verdade, ele veio lhe esclarecer onde ela errou para chegar ao ponto de amargura em que vive.
" Sua vida foi repleta de maldade e egoísmo. Portanto, minha querida, não me culpe. Eu tentei te dar uma vida feliz, mas você usou e abusou do livre-arbítrio e agora está sofrendo as consequências dos seus atos. Quanto mais você pedir para morrer, mais vai viver. A morte é um prêmio que você não merece".
E então para a alegria de Augusta o pedido que ela fez foi aceito pelos seres supremos e ela recebe a oportunidade de uma nova chance de voltar ao seu passado e consertar seus erros, quem é que não queria algo assim, não é? Todos nós carregamos dentro de nós erros que cometemos nas nossas ânsias em acertar na vida. Desse modo voltamos a 1915 quando Augusta nasceu e conhecemos todo o contexto que a transformou para compreender como ela reagirá a tudo.
Augusta é filha de pais portugueses que vieram ao interior de São Paulo achando que se tornariam bem-sucedidos nessa terra, ela era a única menina no meio dos irmãos que trabalhavam na lavoura, o pai dela era um homem rude, violento, ignorante e retrógrado, além de machista, o que é muito triste, a mãe de Augusta constantemente era agredida e a menina sofria com isso por que não podia ajudar sua mãe.
O pai rejeitava Augusta, sempre a tratava mal e batia nela por qualquer motivo, e as agressões físicas evoluíram para outro tipo de agressão, e é nesse momento que temos ainda mais vontade de abraçar a menina Augusta que tanto sofre. Ao chegar na adolescência ela sofreu o estupro praticado pelo próprio pai, e assim sua alma ficou para sempre marcada com aquela dura e dolorosa cicatriz de dor.
Muitos pais como ele só tinham filhos para ajudar na roça, não tinham um pingo de afeto pelas crianças e claro que isso lhes causaria traumas para toda vida. Antigamente ninguém pensava em educar bem os filhos, pelo menos os que moravam nas zonas rurais por que as pessoas mais instruídas da cidade pensavam um pouco mais sobre isso.
O tema de assédio e abuso infantil aqui é muito bem explorado, e é um dos temas que acredito ter grande importância e deve ser mais falado na literatura para trazer o assunto para discussão e trazer informação.
" Seu corpo estava ali, mas sua mente já estava em outro mundo, onde ela poderia ser feliz novamente, como quando era uma criança e sonhava em ser professora e conhecer o mundo".A mãe de Augusta acredito eu entrou um estado depressivo pelos anos de convivência com um homem alcoólatra e violento, e isso fez com que ela deixasse de ser afetuosa com a filha.
" Ficam até tarde na roça, entram em casa, comem e vão dormir. Não tem mais conversa e brincadeiras. Ninguém fala com ninguém. A mãe agora é triste, chora muito e não gosta de conversar. É muito estúpida, não é carinhosa como antigamente".
Augusta encontra refúgio para sua vida sofrida nos livros dados por dona Esperança, uma senhora solitária e de muito bom coração que tem um quitanda naquelas redondezas.
Após o que sofreu com pai e desesperada por ajuda a menina procura aquela que aprendeu a amar, e a senhora Esperança a ajuda a fugir de um destino cruel e a leva para a capital, elas embarcam no trem com destino a uma nova vida para deixar o passado para trás.
Em São Paulo Augusta foi morar na enorme casa que era de dona Esperança, a senhora herdou a propriedade de seu falecido marido e ali precisou se esforçar para recomeçar ao lado da sua menina, pois ela considerava Augusta como a filha que o destino lhe trouxe para amar e proteger.
Dona Esperança tinha más lembranças daquela grande casa de três andares, mas ao lado da sua afilhada iria criar novas lembranças e fazer dali um lar novamente. Augusta finalmente conseguiu frequentar a escola e estava feliz com a sua nova, mas infelizmente nem tudo são flores e mais uma vez o sofrimento viria bater em sua porta outra vez.
Ela conheceu um rapaz cheio de lábia que rapidamente a convenceu a cair de amores por ele, o vizinho da casa da frente, seu nome era Cristiano, ele estava de olho na fortuna de dona Esperanças e malandro como sempre só queria vida fácil e dinheiro no bolso, então viu seu futuro perfeito ao cruzar com menina dos olhos azuis e sorriso tímido e inocente.
Não demoraram a se casar e foram morar na mansão de dona Esperança, mas a vida do casal não foi nada fácil e Augusta sofreu na mão daquele que um dia ela viria a descobrir quais os negócios ele escondia da sua vida suja e imoral.
Augusta teve com ele três filhos e teve que conviver com um marido que não dava atenção a eles, que vivia bêbado e se metia em jogos sempre, isso foi amargando ela aos poucos. Cristiano ao perceber que não conseguiu colocar a mão no dinheiro da dona da casa ficou furioso e não se importou em levar com ele sua família para outro estado, uma terra no meio do nada e sem segurança alguma, deixando assim sua mulher e filhos a mercê de aproveitadores e correndo risco de passar fome.
Cristiano tentou ludibriar o coronel da região para ganhar tempo e se dar bem, mas não demorou muito e os planos de enriquecer naquela terra foram para o beleléu por que deu tudo errado, então ele deu no pé e abandonou sua família sem o menor remorso, já que era um canalha de marca maior.
Augusta trabalhava nas plantações e seus filhos infelizmente tinham que acompanhá-la, era uma vida sofrida, difícil, eles passavam muitas necessidades, eram praticamente escravos de uma dívida que nunca terminava, obviamente o coronel faria todos trabalharem até morrer como muitos outros exploradores.
Augusta foi pega pelo susto do destino várias vezes quando seu filho adoeceu gravemente, depois teve que criar os filhos sozinha e por fim precisou tomar uma dura e dolorosa decisão para manter seus filhos sobrevivendo, qual a mãe que não faz enormes sacrifícios, não é mesmo?
Mas esse sacrifício iria atormentar a alma de Augusta por muitos e muitos anos, mas ela não teve escolha, era fazer aquilo ou todos iriam perecer, e em momentos cruciais assim prezamos pela nossa sobrevivência seja lá como for.
O destino acompanhou e ajudou uma vez ou outra nas decisões de Augusta até que ela cresceu em humildade e teve seu coração transformado a tal ponto que não precisava mais do dedo dele nos momentos das decisões mais difíceis. Ela amadureceu e enfrentou sua jornada de uma maneira fantástica.
Após muito sofrimento e pelas decisões corretas que tomou acertando os erros que cometeu, ela pôde reencontrar sua madrinha, dona Esperança e sair daquela vida tão difícil e sofrida.
" Não é sorte. Suas vidas se cruzaram para que ambas encontrassem a felicidade. Foi o destino. Vocês pertenciam uma a outra, não por laços de sangue, mas de amor".
Na cidade as crianças foram para a escola e vida segue seu rumo, mas a amargura da vida dura ficou no coração dela, além dos traumas das lembranças traumáticas, então ela se fechou no seu mundo para se proteger de pessoas ruins, se isolou em casa.
Dona Esperança sabia que não ficaria por muito tempo ao lado da afilhada, então a prepara para que ela volte a ter contato com o mundo exterior, o que para mim fica claro que Augusta teve o que chamo de estresse pós- traumático já que sofreu violência física e sexual algumas vezes na vida, e também episódios depressivos e vão entender mais a diante a razão de eu dizer isso.
Uma grande e repentina perda leva Augusta a um luto profundo e que parece que nunca vai terminar. Quem de nós está pronto para deixar quem amamos partir? Nós os amamos tanto que se pudéssemos os faríamos eternos para jamais ter que nos separar deles.
Aqui a Augusta já adulta é mãe de três lindos e inteligentes jovens sofreu um grande baque da vida e se recolheu em seu luto a tal ponto que entrou no seu mundo particular.
" Fechou-se de novo em seu rancor e se banhou de amargura e arrependimento. Trancava-se em seu quarto e mal falava com os filhos, como se eles não estivessem sofrendo".
O livro conta toda a história da dona Augusta, então é divido em três partes, a vida dela é repleta de episódios tristes, mas de momentos de muito amor também, e é nesses instantes de união profunda e amor incondicional que nos emocionamos e somos envolvidos também por essa atmosfera positiva que nos passa tantas coisas boas.
Palmira e seus irmãos sentiram a ausência da mãe, mas nada podiam fazer por que o luto foi maior do que tudo naquele momento da vida de Augusta, e por falar nele, acredito que é uma das piores dores que um ser humano pode experimentar por que mesmo que doa perder um braço ou uma perna, a gente chora e se acostuma com o novo corpo, mas quando você perde alguém que ama nada do que faça pode cobrir aquele buraco que esta pessoa deixará em seu coração e em sua alma, as saudades sempre serão devastadoras, como dói, ah, dói bastante, mas nós sobrevivemos, meus queridos, sangrando de dor pelas pancadas da vida, ainda assim continuamos avante por que viver é um jogo de sobrevivência e nos tornamos frios, secos, amargos, insensíveis, seja lá como for por que algo nos deixou assim, não foi por escolha nossa no início, mas podemos optar por permanecer assim ou não.
Quando um dos filhos de Augusta precisou servir ao exército devido a segunda guerra mundial, ela sofreu bastante e não desgrudava do rádio em busca de notícias, enquanto isso não percebia a carência de Palmira e a dor do outro filho gêmeo que restou, deixando-os assim mais uma vez um pouco abandonados. Muitas coisas aconteceram até o retorno do filho de dona Augusta, o destino realmente sabe como mexer seus pauzinhos.
Gosto das críticas que a autora faz a sociedade antiga e preconceituosa do século passado, que infelizmente herdou do anterior por que ninguém ousava enfrentar o sistema atrás de mudanças, e as mulheres que faziam barulho podiam muito bem serem trancafiadas em casas de recuperação para jovens desajustadas mentalmente, pois nessa época as mulheres não devia ter direitos ao conhecimento, tanto que só começamos a ganhar mais espaço da década de 50 em diante por que antes disso era uma repressão enorme em cima das mulheres que queriam um novo tempo e novas oportunidades, um mundo a explorar e conhecer, uma chance de ver a vida com outros olhos, os da modernidade e transformação.
" Os homens podem ter vários filhos fora do casamento e todos aceitam, mas a mulher na mesma situação é julgada e condenada à reclusão. Ninguém se aproxima dessas mulheres".
O livro tem uma riqueza de detalhes excepcional, realmente me senti transportada para outras décadas e lindíssimas lições que promovem um rebuliço dentro do leitor, é o tipo de livro que você termina diferente do que quando começou, e eu amo esse tipo de obra.
A cada decisão acertada de Augusta e quão bem ela faz a sua família fazendo tudo certo na sua segunda chance de vida, nos faz ficar emocionados e vibrar com ela por suas conquistas.
Nesse livro conseguimos ter um bom panorama dos horrores da segunda guerra mundial e o quanto as pessoas sofreram com ela, o filho de Augusta viu muitas coisas com seus olhos, viu milhares de corpos ao chão e só aumentou seu ódio em relação ao megalomania hitlerista que só prolongou o sofrimento de milhões de pessoas, principalmente os judeus e poloneses, além de pessoas com deficiências físicas ou síndromes, o nazismo não perdoava ninguém, ele era cruel.
" A guerra é assustadora, mas o pior era a crueldade dos inimigos, matavam por diversão, como se não valesse nada. Quantos morreram sem nem saber por que estavam ali."
Ele se sentia poderoso em fazer uma limpeza mundial extinguindo milhões de pessoas nos campos de concentração. Como exemplo de filmes sobre o tema sugiro que vejam " o menino do pijama listrado", " O diário de Anne frank", e "Olga Benário", todos eles tem protagonistas judeus e mostram os horrores dos campos de concentração onde esse povo foi covardemente roubado, já que os nazistas se apossaram dos seus comércios e bens, e os transformaram em escravos podendo comer apenas uma refeição para não morrerem depressa, eles se tornavam humanos acuados como animaizinhos de frente ao perigo dos homens maus.
Chorei com todos esses filmes, e choro ainda mais por saber que nenhum governo foi capaz de parar as atrocidades praticadas por Hitler, nem mesmo o Brasil saiu impune disso, vejam no filme da Olga como a perseguição política aos participantes da intentona comunista era puramente tortura, Olga foi uma judia que se envolveu com Carlos Prestes, e estávamos na era vargas, que reprimiu os revolucionários da forma que sabiam bem, — não que defenda o posicionamento dela e tome partido disso, mas me refiro apenas as semelhanças entre Hitler e Getúlio Vargas no tocante a crueldade mesmo.
Termino esse adendo histórico só para fazer um outro no momento mais oportuno ( risos), eu amo história e fui semi-finalista da olimpíada nacional e história organizada pela Unicamp nas escolas de ensino médio, e cheguei a isso com minha equipe e nossa paixão pela história do nosso país e do mundo, então claro que fiquei encantada de ver tantos episódios tão bem descritos no livro, foi sensacional a sensação de ter uma obra com décadas de diversas transformações no país.
Voltando a dona Augusta que passou pela segunda guerra mundial, pela modernidade dos anos 50 e 60 muito bem obrigada, foi atrás dos seus sonhos, se tornou empreendedora no ramo escolar com uma das escolas mais bem quistas da região, mas não esperava que na década da juventude questionadora nos anos 80 mais uma vez a vida lhe colocaria uma grande prova, mas ela estava bem preparada para qualquer provação depois de tudo que tinha enfrentado e do tanto que lutou para ser feliz e fazer sua família feliz, ela sabia que o tiro seria certeiro e o barulho chegaria longe lá pelas bandas do planalto.
Augusta se tornou uma mulher forte e muito guerreira, um exemplo para todos que amavam, principalmente por sua luta pela inclusão social, já que ela teve uma neta com síndrome de Down, aliás, falando nisso a pequena Angélica era um doce de menina, amorosa e inteligente, além de muito talentosa com artes.
Achei maravilhoso ver a autora trabalhando tão bem essa temática para desconstruir um dos maiores venenos que existe: o preconceito.
É um tema que sempre achei importante ser tratado, e hoje mais do que nunca sinto que precisamos continuar falando dele para informar as pessoas, pois jovens e adultos com Down podem sim estudar, se formar, fazer faculdade, trabalharem, terem suas carreiras, eles são capazes de superar quaisquer dificuldades de aprendizagem.
A vovó Augusta não poupou esforços e praticamente foi uma Katniss de cabelos prateados e olhos azuis para muitos pais que também queriam que o governo ofertasse mais vagas as crianças com Down nas escolas.
Que orgulho dessa mulher, gente! Eu chorei tantas vezes com sua história, com suas dores, e sim a resenha ficou gigantesca, mas são muitos temas abordados no livro como vocês viram e eu não podia deixar nenhum passar batido.
A escrita da Cris é espetacular, envolvente, apaixonante e inspiradora. Se foi o destino que cruzou nossos caminhos não sei, mas me sinto privilegiada em tê-la conhecido e é uma imensa honra e prazer ter lido uma obra tão fantástica e inesquecível como essa.
Eu li o livro três vezes no total, a primeira obviamente quase comendo ele, quase esquecendo da vida de tanto que me prendia o tempo todo, a segunda marcando citações que me marcaram muito, e a terceira relendo meus momentos prediletos.
É um drama muito bem escrito com uma trama que vai pegar seu coração e dar uma boa apertada, você vai querer pegar a Augusta e os filhos e abraçá-los diversas vezes, ah como sofremos com essa família incrível, mas sem dúvidas é um dos melhores livros que li na vida, não exagero nisso por que só falo disso com livros que me instigam a mudar, a ter mais empatia com meu próximo, a me humanizar mais em um mundo tão piloto-automático hoje em dia, livros como esse são a esperança de que a humanidade ainda tem um pouco de salvação, a literatura é transformadora e por isso sou tão apaixonada por ela.
Cris, meus parabéns pela originalidade por que foi a primeira vez que vi o destino narrando algo, já tinha visto a morte narrando em " a menina que roubava livros", e confesso que amei o livro por completo e perdi as contas de quantas vezes lágrimas escorreram dos meus olhos, mas vale a conferir. A narração dele foi excepcional!
Acharam que para por aí? Não mesmo, a vida ainda reserva surpresas para a nossa velhinha querida, e mais emoções proporcionadas por sua linda neta a encherão de orgulho, lindo de ver!
O destino entrará em uma nova empreitada e saberemos no próximo livro qual a história que ele nos contará agora.
Estou ansiosa já para lê-lo.
Amei o livro e recomendo!
Biografia da autora
Cris Rodrigues se encantou pela literatura aos sete anos de idade e desde então nunca mais parou de ler. Atualmente, é professora de Língua Professora e inicia, com O Destino Contará Minha História, sua carreira como escritora. O desejo de escrever sempre esteve presente em sua vida, mas ela preferiu esperar pela chegada de uma ideia original; como ela mesma sempre diz, não queria escrever “mais do mesmo”. Além do seu gosto pelas palavras e pela literatura, também ama sair e viajar e vê em seus filhos, Caio e Bárbara, sua grande paixão. Mora em São Paulo com sua filha e sua cachorrinha Mel.
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